terça-feira, 14 de julho de 2015

ESPECIAL QUADRINHO: Entrevista Lucio Oliveira - Edibar







Lucio Oliveira é cartunista, ilustrador e chargista em mais de 15 jornais, revistas e sites espalhados pela federação. Atualmente ministra aulas gratuitas de desenho básico para alunos carentes na Igreja Metodista de Natal - RN.   

Contatos

OBRAS
Participação especial no livro "Humor nos tempos de cólica" - Editora Revinter - 2011
Fábrica de Risos - Ilustrações nos volumes 1, 2 e 3 - Editora Super News - 2011
Edibar & Turma - Editora Super News - 2012
Edibar - As tiras mais engraçadas do boêmio mais escroto dos botecos - Editora HQM - 2015



1. Como e quando você começou a se interessar pelas HQs?

Eu tinha 6 anos de idade quando ganhei de minha avó uma coleção de livrinhos do Sítio do Pica- Pau Amarelo. Li e reli aquelas historinhas centenas de vezes. Foi a porta para o mundo da literatura e a paixão pelas histórias ilustradas.

2. Lembra qual foi o primeiro quadrinho que te cativou?

Ainda menino, eu gostava de ler as histórias do Zé da Revista Carreteiro. Meu avô era caminhoneiro e por isso sempre tinha exemplares dando sopa pela casa. Nessa época, passava o Daniel Azulay na TV ensinando a garotada a desenhar. Eles foram muito importantes para despertar em mim o interesse pelo desenho.

3. Como os quadrinhos influenciaram sua vida?

Não me imaginava um desenhista de histórias em quadrinhos na vida. Apenas gostava. Sempre enfrentei um certo preconceito quando o assunto era desenho. Quando comecei a trabalhar como desenhista, muitos caçoavam dizendo que essa profissão era coisa de criança. A frase que eu mais ouvia era "Quem é que ganha dinheiro com isso? Tem que arranjar um emprego de verdade... Isso não dá futuro para ninguém!" O veneno escorria pelo canto da boca dos próprios parentes, amigos, namoradas... Muita gente não conseguia enxergar algum futuro na profissão. Realmente foi muito difícil no começo, mas se eu tivesse dado ouvidos para o pessimismo dessas pessoas, hoje eu estaria trancado dentro de um escritório, digitando, carrancudo, ao lado de um cinzeiro cheio de bitucas de cigarro. Hoje estou colhendo os frutos da persistência e vendo muita cobra se escondendo pelas frestas. As pessoas que não deram certo na vida, tem o péssimo costume de achar que ninguém vai dar certo também. 

4. Na hora de ler, qual gênero de HQ prefere?

Leio de tudo. Snoopy, Marvel, Mônica, etc. Gosto de ler até 5 livros ao mesmo tempo. Hoje, estou mergulhado na " História não contada do Motorhead", "The Walking Dead - A queda do Governador I e II", "Millôr Definitivo", "Guerra Civil" da Marvel e "A Arte de Voar" de Antonio Altarriba, história ilustrada de um ex-combatente da segunda guerra mundial. Essa diversidade é como uma academia para o cérebro. Isso ajuda muito na elaboração das tiras.

5. Qual seu quadrinho favorito? Por quê?

Não tenho nenhum predileto. Quando vou comprar algo para ler, vejo se o conteúdo envolve e dou aquela folheada básica para ver se está bem desenhado. Apenas isso. Para mim, o traço é primordial. O livro "A Arte de Voar", por exemplo, é um livro que é todo em quadrinhos, mas não atrai nenhum fã da área. Gostei dele pelo fato do desenhista Kim ser muito detalhista e ter demorado 4 anos para desenhar o livro todo. Além da responsabilidade de trabalhar numa história verídica, o cara teve que voltar no tempo da segunda guerra mundial para desenhar toda a história. Eu sei o quanto é difícil.


6. Como surgiu “Edibar”?

Surgiu depois de uma temporada que passei lavando a garganta por dentro com cerveja nos botecos de Apucarana no Paraná, minha cidade natal. O município era muito pequeno e não tinha muito o que fazer por lá. Bares eram as melhores opções para a diversão de muita gente. O ambiente era muito eclético. Tinha de tudo: Médicos tomando cerveja e jogando truco com mecânicos, advogados jogando sinuca com mototaxistas, gente filando cigarro dos outros com a própria carteira de cigarro no bolso, mulher jogando mala de marido no chão do boteco... Peguei tudo isso, misturei no liquidificador, acrescentei meia garrafa de cerveja, meia de uísque, açúcar, limão, uma dose de canalhice e deu o Edibar.  



7. Onde busca inspiração para criar?

A fonte de inspiração estava dentro dos botecos. Hoje não frequento mais esses ambientes e só passo de carro em frente de vários quando vou buscar as crianças na escola. Dou aquela olhadinha básica para dentro deles para ver se vejo alguma figura diferente que sirva de inspiração para criar um novo amigo para o Edibar. Foi assim que surgiu o "Neybar". Vi um cara muito relaxado parado em frente de um boteco horrendo de Natal. Usava uma camisa da seleção do Brasil, era barbudo, cabeludo e feio que dava dó. Cheguei em casa e desenhei a figura tomando cerveja com o Edibar. Os leitores adoraram. Na maioria das vezes, criar as histórias de Edibar exige só um pouco da minha concentração. Depois de anos desenhando a figura, parece que o personagem criou vida. Está com a personalidade formada. Assim, não fica difícil sentar na mesa de desenho, pegar uma folha em branco e começar a desenvolver alguma peripécia do boêmio.

8. Na hora de trabalhar/criar, tem alguma mania?

Para criar escuto Mozart, Beethoven, Bach, Chopin... Depois de elaborados, dou um salto do clássico para o rock para fazer a arte final. Motorhead é minha banda predileta.

9. Existe algum tema que se recusaria a usar nos seus trabalhos? Por quê?

Não misturo Edibar com times de futebol, religião, política, pornografia e misticismo. Alguns desse temas chamam para eternas discussões e sempre acabam em nada. Muitas crianças também gostam dos personagens e tenho bastante cuidado com elas. Pensando nisso, tento passar para todos que a bebida faz mal e que o Edibar não é nenhum herói. Vive no médico, não dá certo em nada que faz e vive dormindo na casinha do cachorro porque maltrata a mulher. Faço o contrário que as propagandas de cerveja fazem. Não mostro que mundo é bonito e cheio de mulher bonita em volta daquele que toma cerveja. 


10. O que vem por aí?

Em 2016, eu e minha esposa (gerente comercial) fomos convidados para lançar o Edibar numa feira em Lisboa. O Edibar está detonando por lá e os portugueses já estão na expectativa de receber o cervejeiro na terra do vinho. 

11. Algum recado para os leitores?

Se tem uma coisa que eu respeito são os leitores. Respondo a cada um que entra em contato comigo, seja através de e-mail ou mensagens no facebook. Não deixo ninguém para trás. O Edibar não estaria no patamar que está se não fosse o carinho deles. Essa força me estimula e é o meu combustível para melhorar a cada dia.



Foto tirada em São Paulo na Comix Book Shop no lançamento do livro "Edibar - As tiras mais engraçadas do boêmio mais escroto dos botecos" Editora HQM - Da esquerda para direita: Carlos Costa (fundador e dono da Editora HQM), Fábio Figueiredo (editor e arte finalista Disney na Editora Abril), Lucio Oliveira, Marcelo Alencar (crítico, jornalista e tradutor Disney/escreveu o prefácio do livro Edibar e o cartunista OTA, ex-editor da revista MAD. 

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