terça-feira, 11 de agosto de 2015

ESPECIAL QUADRINHOS: Entrevista Natacha Leonelo




Natacha Leonelo, animadora 2D, encadernadora e designer gráfica. Curiosa compulsiva, adora conhecer pessoas e aprender seja o que for. Formada em Desenho Industrial, já trabalhou em alguns estúdios e empresas de design, mas sua paixão por desenhos animados falou mais alto. Trabalha com animação 2D digital e tem projetos de quadrinhos encaminhados para os próximos anos. Fez um curso de encadernação em 2011 e agora gerencia a marca Sky Pirate Design fornecendo serviços freelancers e preparando sketchbooks artesanais seja  pronta entrega ou encomenda.

Contato:

OBRAS

Jornada na Caverna, 2014, Sky Pirate Design




1.               Como e quando você começou a se interessar pelas HQs? 

Desde pequena meus pais compravam quadrinhos como Tio Patinhas, Turma da Mônica, Zé Carioca, a galera da Disney (no geral os hqs lançados pela Editora Abril, na época).  Sempre fui muito estimulada a ler em casa e na escola. Em 2008, fui estudar quadrinhos na HQ em Foco e resolvi procurar mais sobre esse universo. Acabei imergindo tanto que já tenho ideia pra diversas histórias que pretendo escrever e desenhar.

2.               Lembra qual foi o primeiro quadrinho que te cativou? 

Nessa época que comecei a estudar quadrinhos, alguns dos primeiros que comprei foi “O Circo de Lucca” do Jozz – que vim a conhecer na HQ Mix, na Roosevelt, até então (hoje a loja não existe mais, infelizmente); Café Espacial e A Avenida (algo assim).  Percebi recentemente que estava mais próxima do mundo independente do que pensava. Uma, porquê via coisas bem interessantes na HQ Mix e comprei algumas, e outra, porquê meus professores dessa escola fazem quadrinhos independentes. 

3.               Como os quadrinhos influenciaram sua vida?

Talvez sirvam de inspiração e referência de diversos modos. Seja em roteiro, tratamento gráfico, uso de cor... Inspiração para minhas estórias também. Assunto de bar. rsrs Quadrinhos geral ótimas conversas quando a galera tem repertórios diferentes e um contribui para aumentar a coleção do outro.

4.               Qual seu quadrinho favorito? Por quê?

Essas perguntas de selecionar “O” preferido são as mais doídas. rs. Posso dizer alguns. “Habib” do Craig Thompson é absolutamente linda. A história é muito sensível e demonstra um pouco sobre a sociedade árabe, maus tratos e machismos não só com as mulheres, mas principalmente, entre outras coisas. Não bastasse isso, você passa muito mais tempo lendo as imagens do que os textos. São ilustrações imensamente ricas de detalhes o que influencia a narrativa visual e o conjunto da obra toda fica de tirar o fôlego. 

Outra HQ que gosto bastante é “Arkham Asylum” do Grant Morisson e do Dave McKean. Por três motivos: 1. Tem o Batman. Por algum motivo ainda não totalmente desvendado, Batman é o único quadrinho de super heroi que eu (tenho interesse em) compro (ar); 2. É escrito por Grant Morisson, cujo trabalho em “Invisíveis” é fantástico, ele reuni uma infinidade de referências legais, e o roteiro dele pra essa HQ é divertidíssimo; e 3. Tem Dave McKean, que trabalhou na maior parte dos projetos visuais com Neil Gaiman. A Arte dele é forte, difícil de digerir em 80%/90% das vezes, incomôda mas é muito interessante, então, pra quem gosta, simplesmente continua lendo e acompanhando seu trabalho.

Pra terminar e não estender demais, admiro demais o trabalho do Neil Gaiman. Ele escreve pra televisão, romances, quadrinhos, e filmes (“Mirror Mask”, com Dave McKean). Um dos trabalhos mais conhecidos dele nos quadrinhos é Sandman. Li algumas histórias, mas conheço mais aquelas hqs “extras” desse mundo; e os livros que mais gosto dele são “O Oceano no fim do caminho” e “Lugar Nenhum”, cujos ainda pretendo fazer umas ilustras ou algum projeto visual envolvendo essas histórias.


5.               Quando e como começou a desenhar?

Desenho desde pequena, mas com os afazeres da escola ficando mais complexos fui deixando um pouco de lado, desenhando apenas na aula de educação artística. Um dia meu pai me perguntou o porquê parei de desenhar, e percebi que queria voltar a esse mundo. Primeiro pelo desenho, segundo pelas cores. Então, depois de formada no colégio, fiz técnico em design gráfico, depois o curso de quadrinhos, e na faculdade tive aula de desenho, não parando mais.

6.               Onde busca inspiração para criar? 

Acho que de tudo que tenho contato. Filmes, séries, livros, momentos engraçados e reflexivos entre amigos, irmão, coisas que observo e percebo. É tudo muito entrelaçado, uma coisa influência outra.

7.               Na hora de trabalhar/criar, tem alguma mania?
 
Rsrsrs Pra conseguir trabalhar mas focada não posso estar em casa por conta das distrações (internet, geladeira... ). Mas forçando um pouco pra eu fazer minhas coisas, música ajuda muito e manter um clima mais “introspectivo” em relação com o mundo externo.

8.               Tem algum trabalho mais marcante?

Marcante talvez não, considerando que estou começando ainda nas artes narrativas e visuais mas, lancei ano passado na Comic Con Experience meu livro em aquarela “A Jornada na Caverna”. É um projeto que iniciou nas aulas de quadrinhos na faculdade e resolvi publicá-lo independente tendo minha marca de sketchbooks artesanais – Sky Pirate Design – como editora.

9.               Qual a maior dificuldade encontrada na hora de criar?

Acho que me organizar, separar um tempo no dia-a-dia para finalizar meus projetos. Em casa têm muitas tentações rs – internet, geladeira, sofá – então ajuda se eu estiver produzindo em algum outro lugar. Mas música me ajuda a concentrar no que faço, quando é ilustração e não texto.

10.            Existe algum tema que se recusaria a usar nos seus trabalhos? Por quê?

Ainda não sei. Por enquanto a maior parte das coisas que fiz tem um visual mais voltado ao público infantil/juvenil, mas tenho histórias que estou trabalhando que é mais para o público juvenil/adulto. Algumas delas envolvem zumbies, assassinatos, injustiças com as mulheres e crianças.


11.            O que vem por aí?

Estou trabalhando um roteiro para uma HQ noir. Sendo assim, preciso de um detetive (check), um vilão (check), um crime... Como comentei acima, ainda não sei ao certo meus limites como autora, mas as vítimas desses crimes são crianças. Horrível, deprimente, perda de fé na humanidade... Mas é algo que soube que acontece de fato, e precisava ser “pesado” o suficiente para desenvolver a trama. Caso eu pense em algo mais leve e ainda sim interessante, eu mudo. Pretendo lançar o quadrinho ano que vem ou no seguinte. É um projeto que quero trabalhar com cuidado. 

12.            Algum recado para os leitores?

Se tem algo que te faz brilhar os olhos em fazer, vá atrás. Com certeza não será fácil, mas com muita dedicação valerá a pena. Quando a gente vê o projeto final impresso, de verdade, todo o tormento que passou para concretizá-lo vale a pena. Então insista no que te faz feliz.

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