Tolkien Toast 2018
John Ronald Reuel Tolkien
(03/01/1892 – 02/09/1973) foi escritor, poeta, filólogo e professor
universitário inglês, e evidentemente é mais conhecido como J. R. R. Tolkien e
por seus livros O Senhor dos Anéis, O Hobbit, O Silmarillion, e mais uma imensa
e variada coleção de escritos, todos saídos de sua prodigiosa imaginação.
O Professor, como carinhosamente
chamado pelos fãs, influenciou gerações que se encantaram com sua arte, e sua
popularidade cresceu imensamente quando foi lançada em 2001, 2002 e 2003 a
trilogia cinematográfica O Senhor dos Anéis. Após um longo hiato sua criação
retornou aos cinemas com outra trilogia, O Hobbit, entre 2012 e 2014, adaptando
a história imediatamente anterior à Saga do Anel. Os novos filmes, mesmo não
tendo recebido os mesmos elogios dos anteriores, apresentaram a obra do
Professor para uma nova geração, e quem já a conhecia ficou feliz pela
oportunidade de retornar à Terra-Média.
O maior mérito dos filmes foi
despertar em muitos o desejo de saber mais a respeito desse mundo maravilhoso e
seu criador. Quem fez isso não tem absolutamente do que reclamar, pois é enorme
a variedade de livros a que se tem acesso, seja com a obra de Tolkien ou a
respeito dele mesmo. Ler seus textos é um mergulho incrivelmente prazeroso em
um mundo fantástico, desfrutando a extraordinária riqueza de detalhes de cada
descrição ou cena que produz uma imagem nítida da grande criação do Professor,
a Terra-Média!
E o melhor de tudo, conforme fica claro nos
depoimentos abaixo, é que a leitura das obras de Tolkien foi o ponto de partida
para, da mesma forma que na Sociedade do Anel, grandes laços de amizade,
carinho e respeito fossem criados, e afinal, não é esse o objetivo maior de
ser, como nós, nerds de carteirinha? Fazer amigos, se reunir e celebrar as
histórias, de qualquer mídia, que tanto amamos? Por isso, neste dia 03 de
janeiro, erguemos nossas taças e fazemos um brinde em honra aquele que
provavelmente é o maior contator de histórias de todos os tempos, nosso querido
Professor J. R. R. Tolkien!
A obra de Tolkien e nós - depoimentos
Renato A. Azevedo
48, engenheiro
eletrônico, jornalista, escritor e roteirista.
Falar sobre a obra do Professor
é, para mim, algo que se aproxima da ousadia. Como fazer comentários a respeito
de algo tão imenso, poderoso e magnífico, que influenciou, influencia e
seguramente influenciará gerações de leitores e contadores de histórias? Como
escritor sequer me atrevo a dizer que sou colega de J. R. R. Tolkien, pois seu
trabalho se situa em uma escala quase inimaginável de criação. O Professor
criou realmente um mundo à parte, e é em sua honra que em todo 3 de janeiro
fazemos o Tolkien Toast, celebrando sua vida e sua inimitável obra.
Meu primeiríssimo contato com
Tolkien veio através da cobertura feita pela saudosa revista Sci-Fi News sobre
o lançamento do filme O Senhor dos Anéis – A Sociedade do Anel. Ali eu aprendi
que havia essa fabulosa obra literária que estava finalmente sendo adaptada ao
cinema, e por meses a fio, se lembro bem entre os anos de 1999 e 2001, a revista fez uma
cobertura como eu nunca vi antes, e jamais vi depois, a respeito do lançamento
de um filme.
O mesmo trabalho se deu nas
sequências, e em particular guardo com muito carinho a edição 62 da Sci-Fi
News, pois além da capa dedicada a O Senhor dos Anéis – As Duas Torres, nela
foi publicado um conto de minha autoria, Zé da Pinga, minha primeira publicação
em papel! E vale destacar as duas opções de capa, uma com Aragorn e outra com
Gandalf, para a edição 73, com O Senhor dos Anéis – O Retorno do Rei. Sim,
tenho as duas, e não dou, não vendo nem empresto! Mas prometo que, quando tiver
um tempinho, ainda vou visitar meus vastos arquivos de revistas e escreverei
especificamente sobre a cobertura da Trilogia do Anel pela Sci-Fi News, combinado?
Filmes, o que dizer deles, não?
Para mim são perfeitos, e depois de ler os livros percebi como foram adaptados
de forma primorosa. Tenho duas histórias, a primeira é de irmos conferir em
pleno dia de Natal a estreia de O Retorno do Rei e vibramos e choramos e nos
emocionamos demais! A segunda é que naquela última semana de dezembro de 2003
voltei ao cinema para conferir, ao longo de toda uma tarde, as versões
estendidas de Sociedade do Anel e Duas Torres. São Paulo vazia por causa dos
feriados, meio de semana, e o cinema estava absolutamente abarrotado de
gente!!!
Isso, e mais a quantidade absurda
de pessoas que fazem parte das diversas sociedades dedicadas á obra de Tolkien
somente aqui no Brasil, tornam ainda mais incompreensível a demora inacreditável
para o lançamento das versões estendidas em DVD. Mas a espera compensou, é um material
obrigatório para os fãs, mas evidentemente, já tomado pelo amor incondicional à
Terra-Média, não é que acabei comprando também a caixa das versões de cinema
com um belo desconto pouco depois? Os extras desta igualmente valem a pena, e
gosto muito, por exemplo, de Retorno Á Terra-Média.
E foi nessa mesma tarde das
versões estendidas que comprei, finalmente, os três livros da Trilogia do Anel.
E sim, admito que ainda falta um pedaço de O Retorno do Rei, mais os extras,
para serem lidos. Resta evidentemente pouco a dizer a respeito da obra, além de
reconhecer o trabalho inacreditável e maravilhoso de Tolkien em compor um mundo
tão detalhado e com uma mitologia tão rica.
Em tempo, faltou falar do Oscar
de 2004, e para quem sempre acreditou que nunca teria a chance de ver um filme
fantástico levar para casa o careca dourado e nu, foi uma emoção indescritível
ver outro mestre, Steven Spielberg, ser chamado para anunciar o prêmio de
Melhor Filme. Um grande amigo, de quem sinto muitas saudades, resumiu
perfeitamente nossa imensa alegria no dia seguinte: “o Precioso é nosso!!!”.
E nesse tempo todo ainda vieram O
Atlas da Terra-Média, Contos Inacabados, no mais recente aniversário ganhei Os
Filhos de Húrin, e também adquiri a biografia lindíssima O Senhor da Fantasia.
Ah, e quem consegue resistir à arte dos Irmãos Hildebrandt? Bem, toda essa
experiência foi algo incrivelmente enriquecedor, mas chega a ser ínfima
comparada à aventura que é ler a obra do Professor. Suas histórias são uma aula
sobre como compor um universo, sobre criação e evolução de personagens, e como
afinal criar um mundo que é sem dúvida vivo, riquíssimo, maravilhoso e cheio de
facetas e maravilhas para serem exploradas. Tenho escrito ficção científica e
fantasia desde meados dos anos 1990, e posso tranquilamente afirmar que a obra
do Professor J. R. R. Tolkien me ensinou a ler e escrever melhor.
Enquanto isso, continuamos
aguardando a anunciada série de TV, na qual espero ardentemente que nem pensem
em fazer alterações nos personagens ou na trama em nome de cobranças de certo
tipo barulhento de gente, e fazendo plantão diante das livrarias para o
lançamento da versão brasileira de Beren & Lúthien, para aprendermos mais
com nosso querido Professor...
Marcia Lins Zotarelli
36 anos, blogueira, escritora
“Numa toca no chão vivia um
Hobbit. Não uma toca desagradável, suja e úmida, cheia de restos de minhocas e
com cheiro de lodo... era a toca de um Hobbit, e isso quer dizer conforto.”
Descobri Tolkien pelo primeiro
filme. Já gostava de fantasia na época, mas fui acompanhar alguém no cinema e
não fazia idéia do que me esperava então. Não imaginava que aquele velhinho de
cinza na carruagem se tornaria um amigo tão querido para mim. No começo do
filme a história já tinha me fascinado pela idéia dos anéis exercerem poder
sobre o coração humano, mas não me dei muita conta disso depois... As
paisagens, Bilbo e Frodo foram me cativando. Sim, gritei e chorei no cinema
junto com todos os fãs que já haviam conhecido Tolkien. Saí do cinema com
vontade de mais e mais e mais... mas não li os livros. Apenas me fixei nas
memórias do filme.
Na época da estréia do Hobbit eu
já tinha lido esse e fiquei encantada, comparando detalhes e adorando a
adaptação que foi criada. Nessa época eu ainda não conhecia quase ninguém que
gostava e Tolkien, apenas uma ou outra pessoa que me acompanhavam no cinema.
Eu era uma daquelas nerds
solitárias por não ter muito com quem papear sobre os assuntos que gostava,
primeira na fila da escola, sem muitos amigos... fui descobrindo clubes de
leitura, cheguei a criar um (Pinguins de Prateleira) com uma amiga, freqüentava
uns dois ou três todo mês. Conheci alguns autores nos encontros, ia a
lançamentos e fui fazendo grandes amizades que tenho queridas até hoje. O clube
que tinha criado foi diminuindo, pois as pessoas não podiam num dia, outros não
podiam noutro e isso foi complicando.
Em 2011 fui no meu primeiro Anime
Party com direito a cosplay e fui vendo que não era a única louca no mundo. Ou
seria a sã? Depois disso meu primeiro Dia do Fã, Bienal 2012 (não ia desde
criança), Dia dos Vampiros. Em 2013 minha primeira Fantasticon. Nossa que
sonho! Autores ali, pertinho de mim. Muitos já amigos, outros se tornaram
amigos. Com isso, no final de 2013 eu resolvi criar o blog para poder falar
sobre minhas aventuras literárias.
Cosplays, amigos e mais eventos
me levaram a conhecer mais fãs de Tolkien no dia 3/1/2016, quando fui com uns
amigos. Nesse dia, como descobri que acontece todo 3/1, a cada hora se faz um
brinde ao professor, fazem leituras e tudo mais.
Em um dos primeiros eventos nerds
que fui, descobri que as pessoas realmente escreviam e falavam em Quenya, a
língua dos elfos de das. Pedi a um homem que estava fazendo marcadores de
página que fizesse o meu. Quem diria que esse cara fosse meu Mithrandir, meu grande amigo Gandalf
(Elfhelm). Achei o traço lindo e acabei por tatuar ele em 2016.
A nerd solitária não estava mais
sozinha no mundo. Comecei a me aventurar na escrita e não paro mais (tirando
momentos de falta de idéia...). Mesmo tendo os volumes novos das suas principais obras, caçar as
antigas em sebos é uma aventura que eu não nego!
Hoje, Tolkien significa amizade, amor e esperança.
Muitos amigos entraram em minha vida por causa de uma nerdice - que para mim no
dia era uma doideira de fazer um brinde a ele. Hoje não me vejo sem esses
grandes amigos que se reúnem por qualquer motivo e que são uma segunda família
para mim. Tolkien hoje é o grande pai dessa família que eu tenho no coração.
Cada vez que se lê um de seus livros ou se assiste uma adaptação de suas obras,
se descobre um pedaço a mais, tanto na obra, quanto em você.
“Os Hobbits realmente são
criaturas fascinantes. Pode-se aprender tudo sobre eles em um mês, mas, mesmo
após cem anos, ainda podem surpreende-lo.”
Patricia Fimbrethil Ferreira
48 anos, pedagoga
Meu primeiro contato com Tolkien foi quando começaram a comentar
que o Senhor dos Anéis ia virar filme. Eu não conhecia esse livro, e muita
gente que eu gostava tinha lido e gostado, então resolvi ler. Minha mãe me deu
o volume único de presente de aniversário e eu li correndo antes do filme.
adorei muito, mas ficou por isso, li o SdA, depois o Hobbit e o Silmarillion.
Era época do Orkut, e lá tinha a comunidade Senhor dos anéis, onde eu aprendi
muito sobre Tolkien, reli o SdA, o silmarillion, o Hobbit, lias Cartas de
Tolkien, uma biografia , os contos inacabados e alguns textos avulsos. Tolkien
mudou minha vida, sim, porque eu não me achava nerd, mas é lógico que eu era, e
por isso achava que tinha algum problema comigo. Mas aí eu me juntei à Toca SP
e conheci uns nerds muito legais, gente muito mais simpática do que os
não-nerds, e agora eu tenho um grupo grande de pessoas que são meus amigos, com
interesses em comum. Bom ,
pra mim Tolkien é um dos melhores escritores do mundo, e eu o amo muto. Não sei
dizer o que ele significa, mas eu tenho muitos livros dele, todos os filmes e
morro de ciúmes:)
Alassië (Natalia)
24 anos, Agente de Atendimento
Primeiro contato com Tolkien:
Meu pai alugou os VHS para assistir comigo.
Mudou sua vida?
Quando tive contato com os filmes e livros, vi personagens
que me inspiraram a lutar pelos meus ideais e sempre buscar ser uma pessoa
melhor. As obras me fizeram conhecer pessoas que mudaram minha vida, pessoas
que até então pareciam não existir. Pessoas amáveis, que me ajudaram nos
momentos mais difíceis e sempre me deram conselhos que somavam e me
faziam/fazem refletir. Eu conheci um novo mundo dentro desse mundo de Tolkien.
Conheci o infinito dentro do finito.
O que, hoje, significa Tolkien e suas obras para você
Eu acordo e vou dormir pensando nas obras, os diálogos me
são como mantras.
As obras me dão coragem e mantém o mal afastado, significam
simples ações de bondade e amor.
Cesar Elfhelm
44 anos, músico
Conheci a obra de Tolkien no cinema "A Sociedade do
Anel "
Tolkien mudou minha vida para uma maior abertura à
literatura de fantasia sem preconceitos. Despertou meu interesse por História,
Filosofia, Religiões, Geologia, Mitologia. Além disso, foi por causa de sua
obra que descobri e fiz tantos amigos até hoje, 12 anos depois de tê -lo
descoberto
O que significa: a capacidade de poder sonhar e realizar. Tolkien
despertou meu interesse por Línguas também!
Sarinha Tomoyo-chan
33 anos, Educadora
- Como foi seu primeiro contato com Tolkien?
Com o primeiro filme da Trilogia do Senhor dos Anéis, A
Sociedade do Anel.
- O que, hoje, significa Tolkien e suas obras para você?
Em uma única palavra? Amizade. Tolkien ensina muitas coisas
em suas obras, mas principalmente o valor da amizade. De uma amizade verdadeira
e honesta. E foi graças a ele, como disse acima, que muitas pessoas
maravilhosas entraram e fazem parte da minha vida até hoje. Tolkien é nosso
Grande Professor... mas também um Santo Casamenteiro (foram muitos os casais
que ele já formou e abençoou na Toca São Paulo hehe) e principalmente, nosso
melhor amigo. ^^~
- Se mudou sua vida e como:
Mudou e muito! Sou cinéfila e ainda era uma adolescente
quando estava pra sair A Sociedade do Anel. Escolhi passar o Ano Novo em SP,
com uma amiga do colégio, justamente pra podermos ir assistir logo na abertura.
Depois disso fiquei super empolgada em conhecer mais sobre esse mundo incrível
que é a Terra Média. Em um Dia
do Fã (um evento nerd bem legal) daquele mesmo ano, conheci o pessoal da Toca
São Paulo, uma das várias Tocas do Conselho Branco, fã clube de Tolkien. Com
eles descobri mais um de meus nomes, Gythien, e já participei de muitos
encontros e eventos com o pessoal da Toca SP, li vários livros e descobri meus
favoritos, como O Hobbit e O Mestre Gil de Ham. Hoje posso dizer que são muitos
anos juntos e é graças a Tolkien que hoje sei ter amigos pra vida toda. ❤
Sheilla
Vairë
50, administradora e futura enfermeira.
Comecei a ler Tolkien em 1989, com O Senhor dos Anéis. Não
conseguia ler nada. Até que em 2001 conheci o Conselho Branco através do
namorado, hoje marido João Mandos. Que me fez trocar o nick de
Laurelin pra Vairë.
Comecei a ler O Hobbit e depois antes de cada filme consegui
terminar o Senhor dos Anéis.
A importância pra minha vida é que me trouxe mitos
fantásticos, ajudei a escrever um livro o Senhoras dos Anéis com a turma da
Toca SP.
Firmou o relacionamento com o marido e trouxe experiências
de vida.
Muitas boas e algumas ruins.
Trouxe alegria, amor pela fantasia. E
diversão com fantasias, cosplays e tudo mais.
João E. S. Uberti
36 anos, professor de inglês
Quando eu ouvi falar de Tolkien a primeira vez eu já jogava
Dungeons & Dragons, então conheci como sendo "o autor que inspirou a
criação do rpg". A primeira coisa que eu li foi o volume 1 da edição
da Artenova, uma edição com vários aspectos complicados. Como cada um dos três
livros é dividido em outros dois, por um ano ou mais eu não consegui uma
continuação e a história ficou em suspenso pra mim com o Frodo desmaiando no
vau do rio. Quando eu consegui todos os livros, foi um conjunto de pockets em
inglês, com o Silmarillion, o Hobbit, o Senhor dos Anéis e outros livros de
Tolkien que na época eu nunca tinha ouvido falar como o Tree and Leaf e o The
Adventures of Tom Bombadil. Nem o Silmarillion tinha sido publicado no Brasil
ainda. Mas eu resolvi encará-los em ordem cronológica, abri o Silmarillion e
foi amor a primeira vista.
Conhecer a obra de Tolkien foi um momento definidor na minha
vida. Foi a minha porta de entrada para a literatura de fantasia em língua
inglesa, que se tornou fundamental no meu caminho como escritor e obviamente
como professor de inglês. Passados alguns anos do meu contato inicial com
Tolkien, vieram as primeiras notícias sobre a adaptação dos filmes. Nessa época
começavam a ganhar muita força no Brasil as listas de discussão via internet,
ancestrais dos grupos de whatsapp modernos, mas que funcionavam via email e que
podiam ser achadas através de uma pesquisa por tema. Eu entrei entrei para
vários grupos ligados ao estudo da obra de Tolkien. Nós conversávamos sobre a
obra via internet e, aos fins de semana nos encontrávamos para jogar rpg,
contar histórias, fazer piqueniques e até doar sangue. Fiz literalmente dezenas
de amigos que me acompanham até hoje.
Tolkien ainda hoje é um dos pilares da minha
construção da literatura fantástica. Ele é uma espécie de mentor, pelo cuidado
que tinha com sua obra, o grau de dedicação. Não importa o tipo de escrita da
pessoa, se amadora, profissional, de ficção ou acadêmica, esse grau de precisão
e dedicação dele é um exemplo. Tenho uma boa coleção de livros dele ou sobre a
obra, uma prateleira inteira na minha biblioteca é dedicada apenas a ele.
Helena Bochiski
51, redatora web
Conheci Tolkien em 2001 com o lançamento do primeiro filme.
Na época eu conheci um fã da obra que fazia parte da Toca SP
e estávamos em começo de namoro.
Quando o primeiro filme foi lançado eu ainda não tinha lido o
SDA inteiro, e fui assistir o filme mesmo assim.
Li o SDA em tempo recorde, mas me apaixonei pelo
Silmarillion que é, para mim, infinitamente melhor que o SDA.
Pedro
23, astrofísico.
Comecei a ler Tolkien com 8 anos, com O Senhor dos Anéis. Além de me fascinar pela história, me apaixonei pela seção de apêndices, que passei meses lendo e estudando. Tenho até hoje cadernos meus de escola dessa época em que tenho rabiscos de runas que aprendi com os livros. Isso me fez adquirir o gosto por complexidade e profundidade, coisa que me é essencial na vida como cientista. Estudar e ler Tolkien se tornou um prazer muito imenso, além de eu já ter dado diversos cursos de Quenya, uma das coisas que mais me fascina na obra como um todo. Atreves de Tolkien também conheci minha esposa, então acho que fica clara a importância da obra para mim!
Débora Valië
30 anos, tradutora
Débora
Valië respondeu no site www.quora.com “Qual
livro ou filme mudou sua vida para sempre?”
Qualquer um.
Qualquer livro/filme pode mudar
sua vida. Só depende de como você enxerga sua vida, como você enxerga o
livro/filme e o que você decide fazer com o que você acabou de ler/assistir.
Estou quase citando Gandalf aqui e você verá o motivo. O livro/filme que mudou
minha vida foi Senhor dos Anéis, mas provavelmente não do modo que você está
pensando. Eu não vejo “mudar sua vida” como tornar você uma pessoa melhor, mais
bondosa, rica e de sucesso... Algumas coisas apenas moldam sua vida de um jeito
que você não saberia se não houvesse experimentado.
Então, Senhor dos Anéis para
mim. Ou eu deveria dizer “O mundo de Sofia”, de Jostein Gaarder’s, já que foi
através dele que eu cheguei a Tolkien ( e este
colocou novos jeitos de ver o mundo dentro da minha cabeça adolescente),
mas eu divago... Eu tinha 14 anos e descobri Senhor dos Anéis. Eu era uma tímida
ratinha de biblioteca que sempre teve poucos amigos e tinha medo de falar em
público até mesmo para responder perguntas de professores. Eu fiquei
aterrorizada com o tamanho do livro e com o fato das pessoas dizerem que era
entediante, mas eu também era curiosa e comecei a ler. Os filmes, como descobri
depois de ler, sairiam meses depois.
Então ler a mensagem de SdA
mudou o jeito que eu via a vida, amizade, bem e mal? Não, não sozinho. Ele me
tocou profundamente. Eu comecei a citá-lo e a pensar muito sobre isso, mas não
mudou o que eu já acreditava e quem eu já era. Então por que eu menciono isso?
Bem, alguns rapazes da minha escola me viram ler e isso ajudou a iniciar
conversas. Eu desenvolvi uma boa amizade com dois garotos falando sobre livros,
garotos que depois eu diria oi ao passar por eles e pessoas me olhavam
estranhamente, pois eles eram os atletas bonitos e populares e eu ainda era a
nerd. Fora isso, eu comecei a pesquisar Tolkien e descobri uma banda que tinha
um álbum inteiro sobre a Terra Média (Blind Guardian), e isso moldou meu gosto
musical para o resto da vida. Ao invés de ouvir o que meus amigos ouviam (a
maior parte pop-rock ou o que estava passando no rádio), eu comecei a ouvir
metal e fazer amizade com pessoas com gostos similares. Meu marido e eu somos
conhecidos por irmos a shows juntos e eu pulava e gritava mais que ele. Lembra
que eu disse que eu era uma garota de 14 anos muito tímida?
Enquanto eu estava pesquisando,
eu descobri que os filmes estavam saindo e fiquei muito animada! Então ficava
de olho nas notícias e então descobri grupos de discussão online e comecei a
participar deles. E então eu descobri um novo nome, novos amigos, algo perto de
uma família, e uma nova “eu” começava do zero. No começo eu era tímida até ali,
via e-mail. Eu apenas lia e assistia, nunca perguntava, respondia ou comentava
nada. Quando havia encontros pessoalmente eu levava alguém comigo, minha mãe,
meu namorado da época (meus amigos brincam que eles os assustavam, pois ele era
um idiota e não bom o bastante para mim se não aguentasse estar com eles), ou
um amigo, então eu não ia sozinha. E você sabe, isso é chato. Eu sempre ficava
com quem quer que eu tivesse levado e não me misturava, não participava
completamente, ficava tímida de falar com eles. Em algum momento eu comecei a
ir sozinha. Olha, eu agora tinha 15 anos e minha mãe ficou cansada de dirigir
30km em finais de semana alternados para lá (e depois de volta) e de repente eu
estava autorizada a pegar trem e metrô sozinha. Essas pessoas me acolheram e me
fizeram sentir como se tudo o que eu tinha que dizer valesse a pena ouvir, e do
nada eu não tinha medo de ler em voz alta ou fazer perguntas ou dar minha
opinião sobre algo, mesmo se eles soubessem do assunto muito mais que eu. Eu
aprendi tanto sobre Tolkien e seu universo com eles, e sobre amizade e sobre
não ser tímida.
Anos indo e vindo e eu comecei
a fazer parte da organização do grupo, ajudando a agendar reuniões, preparar
atividades, ter ideias sobre o que fazer... Eu mesma encontrei-me na escola
preparando uma petição para levar para a diretoria para que minha sala fosse à Feira
Cultural vestidos como personagens do filme e não em uniformes (super tímida
aos 14 se tornou uma adolescente que aos 17 escrevia e conseguia assinaturas
para a petição que levou sozinha à diretora e a convenceu a dizer sim).
Mais alguns anos fizeram com que
aquela garota ascendesse na organização nacional do grupo e preparasse um
banquete Hobbit para 60 pessoas em fantasias e grandes eventos nacionais para
mais de 300 pessoas, falando em teatros de outros eventos cheios de pessoas,
contando histórias, indo ao cinema vestida de Hobbit ou vestidos élficos e
andando nas ruas assim sem nenhum momento de timidez...
Aos 18 com a oportunidade de
estudar Inglês no exterior, eu escolhi a Nova Zelândia ao invés dos Estados
Unidos ou Inglaterra, onde aprendi mais como fazer amigos sem ninguém com quem
contar para ajudar, aprendi a me policiar para chegar em casa na hora e a não
perder noção do horário com meus amigos e perder o último ônibus, como acordar
sozinha de manhã para pegar o ônibus escolar na hora, encontrar lugares bons e
baratos para almoçar, o que fazer quando perdia o ônibus do passeio e me
desesperava, como cuidar de mim mesma e marcar minhas próprias viagens, andar
de ônibus, ir ao aeroporto, pegar táxi, pedir ajuda para pegar um táxi depois
de chegar tarde em uma cidade, não ser tímida dormindo em albergues com mais
quatro garotas no mesmo quarto (uma vez um cara, eles cometeram um erro na
reserva), onde eu fiz muitos amigos do mundo inteiro e onde eu finalmente
acendi a paixão da minha mãe para viajar pelo mundo e me deixado agora ter
visitado mais de 100 cidades em 16 países.
E aos 25 encarar meu chefe em um trabalho estava por cerca de 6 ou 7 meses para que eu pudesse tirar umas férias de 20 dias (normalmente você tem que esperar 12 meses para obter suas primeiras férias) para ir à Inglaterra participar da convenção da Tolkien Society’s “O Retorno do Rei” e me dar a oportunidade de conhecer muitas pessoas novas, fazer novos amigos com uma senhora em Birminghan que eu agora considero minha mãe Britânica por tudo que ela me ajudou lá, ver o túmulo de Tolkien e agradece-lo por tudo, ver onde ele vivia, onde ele trabalhava, onde ele ia beber... (E eu tenho que dizer que eu suspeito que minhas férias levou a empresa a estabelecer uns 20 dias de férias anuais para todos os seus empregados não registrados, então eles devem me agradecer por isso).
Como uma adolescente eu sempre
tive inveja dos meus amigos que tinham amigos for a da escola, amigos de
vizinhança, amigos de férias, e agora eu tenho amigos no mundo inteiro, amigos
da minha idade, mais novos, mais velhos, amigos que tem a idade dos meus pais
ou mais. Eu tive três namorados desse grupo de fãs de Tolkien por falarmos a
mesma língua...
Em 24 de Julho de 2017, me
casei com o 3º namorado, em uma festa que envolveu elementos de todos os
universos fantásticos pelos quais viajamos juntos. Tolkien estava representado
nas Duas Árvores de Valinor, que se ergueram sobre nós durante a cerimônia, nos
banhando com suas luzes dourada e prateada, em símbolos espalhados pela festa,
e livros usados na decoração.
Então, qual livro/filme mudou minha vida? Não, eu não diria isso. Eu não sei como minha
vida teria sido sem ele, então ele não mudou.
Mas me colocou num caminho diferente do que o que eu acho que estaria sem ele.
Me colocou num caminho de conhecer pessoas que realmente me mudaram e realmente
moldaram minha vida como ela é agora. E é aí que eu volto a citar Gandalf. Não
é o livro/filme que irá mudar sua vida. É como você reage a ele e o que você
faz com a história que irá.
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