Nesta
quinta-feira, 3 de janeiro de 2019, os fãs e o mundo celebram o aniversário de
127 anos de nascimento de John Ronald Reuel Tolkien. O autor de O Hobbit, O
Senhor dos Anéis, O Silmarillion e de mais inúmeros trabalhos que marcaram e
seguem marcando e influenciando gerações permanece como um fenômeno e exemplo
máximo da literatura de fantasia, e para homenageá-lo nesta data apresentamos
uma resenha sobre J. R. R. Tolkien: O Senhor da Fantasia, excelente biografia
escrita por Michael White e publicada pela Darkside Books.
O
belíssimo livro tem uma apresentação irresistível, com capa aveludada e
aparência envelhecida, chegando ao ponto de os cantos das páginas serem
escurecidos. Detalhes em dourado em escrita élfica na capa e contracapa são
complementados no interior pela presença de um pôster que em uma das faces traz
uma das fotos mais conhecidas do Professor, enquanto no verso o que vemos é o
mapa da Terceira Era da Terra-Média.
O
livro já arrebenta com nosso coração de fã no primeiro capítulo, descrevendo
uma cena de Tolkien chegando em casa de bicicleta no tempo em que sua filha
Priscila tinha cinco meses de idade, ele faz um agrado no bebê, cumprimenta a
esposa Edith e segue para seu escritório. Lá, se dedica à maçante tarefa de
corrigir provas de alunos, o que lhe garantia um muito necessário pagamento
extra. No meio do trabalho ele encontra uma folha de papel em branco, e começa
a devanear. E é desse devaneio que uma frase importantíssima surge em sua mente,
e ele a escreve no papel:
“Em
uma toca no chão vivia um hobbit...”.
Esse
primeiro capítulo segue com a descrição de como seu pai, Arthur Tolkien, foi
trabalhar em Bloemfontein, África do Sul, o romance com Mabel Suffield e as
dificuldades do casal. Em 3 de janeiro de 1892 nascia John. Em 17 de fevereiro
de 1894 nascia Hillary, irmão de John, e em 1895, diante das dificuldades
enfrentadas na África do Sul, Mabel e os filhos rumaram para a Inglaterra.
Arthur infelizmente contraiu febre reumática, e acabou falecendo em 1896.
Esse
primeiro capítulo descreve como Mabel tentou criar os filhos da melhor forma
possível em Sarehole. Os dois irmãos percorriam os arredores dessa cidadezinha
arborizada criando mundos imaginários, habitados por feiticeiros malvados,
monstros, vilões e heróis. Mabel incentivava os pequenos de todas as formas,
mas a família teve que se mudar em 1900 para Birmingham. Infelizmente Mabel
faleceu em 1904. Eles já conviviam com Padre Francis, que fora quase um pai
para Tolkien ao longo de sua infância e juventude.
O
segundo capítulo fala da juventude de Tolkien, como conheceu Edith, e seu
progresso nos estudos. Importantíssimo e influente fator em sua vida foi a
amizade, enquanto estudavam no King Edward's School, em Birmingham, com Christopher
Wiseman, Robert Gilson e Geofrey Bache Smith. Eles formaram o Tea Club,
Barrovian Society, ou T.C.B.S., como o grupo ficou conhecido.
Os
estudos de Tolkien em Oxford e o relacionamento com Edith tomam conta do
terceiro capítulo. No seguinte, porém, somos transportados aos dramáticos
tempos da Primeira Guerra Mundial e as dificuldades desse período que afetavam
toda a população. Porém mesmo em tempos sombrios algo extraordinário pode
florescer, e foi assim que Tolkien começou a anotar ideias de sua futura
mitologia, a pedra fundamental do que se tornaria O Silmarillion.
O
horror da guerra, contudo, preenche esse capítulo, e entre as batalhas Tolkien
teve muita sorte em não ser ferido com gravidade, apesar de ser acometido por
uma infecção bacteriana mais conhecida como febre das trincheiras. Em novembro
de 1916 o futuro autor de O Senhor dos Anéis foi retirado do campo de batalha.
Tratado em Birmingham, ele foi depois transferido para Great Haywood para se
restabelecer. Edith veio tratar do já então marido, e ficou grávida nesse
período, que não foi fácil para Tolkien, pois a doença ia e voltava. Nesse meio
tempo, em novembro de 1918, a então chamada Grande Guerra finalmente terminou.
No
capítulo 5, Mundos Fantásticos, podemos nos maravilhar com a descrição sobre
como o conceito do que viria a ser a Terra-Média surgiu, baseado nos estudos e
criações linguísticas de Tolkien. Essa parte analisa as obras que inspiraram o
Professor, e até mesmo os dois mestres pioneiros da ficção científica, Julio
Verne e H. G. Wells, são mencionados. A experiência no conflito mundial teve
decisiva influência, como a descrição das guerras dos elfos contra Morgoth em O
Silmarillion mostra, uma confrontação que, mesmo se os Filhos de Ilúvatar
poderiam vencer, cobraria um preço alto demais.
Os
capítulos 6 e 7 detalham a intensa vida acadêmica de Tolkien, e entre os fatos
surpreendentes que aprendemos está o gosto do Professor por se fantasiar de
viking e assustar os vizinhos (podem conferir na página 111). A amizade com C.
S. Lewis é descrita no capítulo 8, bem como o surgimento de outro grupo
fundamental na vida do escritor, os Inklings. Já o 9 tem o título A Caminho de
O Hobbit, precisa dizer mais? Estão ali suas ressalvas contra a tecnologia do
mundo moderno, e sua afirmação deliciosa de que era um hobbit! Mas essa
humanidade que o Professor criticava aprontou mais uma das suas, e o lançamento
de O Hobbit em 1937 já encontrou o mundo com a sombra que o cobriria dois anos
depois, até 1945.
A
Guerra e o Anel, o capítulo 10, retrata esse período, bem como as dificuldades
do casal Tolkien com alguns de seus filhos já participando da Segunda Guerra
Mundial. Porém o sucesso de O Hobbit já fazia a editora George Allen and Uwin
pedir ao Professor uma sequência, “Um Novo Hobbit”. O Professor insistiu muito
para a publicação de sua história favorita, O Silmarillion, que já estava
praticamente pronto na época, mas diante do que amigos e conhecidos lhe
informavam (e nisso o livro aponta que a influência de Lewis foi fundamental)
ele se decidiu por outra história, que também nesse período já tinha seu
primeiro capítulo, Uma Festa Muito Esperada, pronto! Vale a pena citar outro
trecho:
“Mas
ele logo se deu conta de que a Terra-Média era um lugar muito maior do que
havia sido revelado para ele e seus leitores em O Hobbit. A Terra-Média tinha
sua história e geografia, havia muitas regiões estranhas e maravilhosas que
existiam entre a Floresta das Trevas e as Montanhas da Névoa. Mas, sobretudo,
Tolkien já havia criado a magnífica mitologia, história e geografia, muito do
passado lendário e a estrutura auxiliar para uma pequena fábula: já havia
escrito O Silmarillion. E claro, quando Tolkien se deu conta de que podia
recorrer a este panorama grandioso, concluiu que essa nova fábula, O Senhor dos
Anéis, não precisava ser apenas uma pequena história envolvendo os mesmos
personagens de O Hobbit. Se ele tinha à mão um universo completo para se
divertir, por que se contentar com uma pequena parte dele?”.
Arrepia,
não?
Não
foi um trabalho fácil, nem de longe, e a descrição de como o Professor quase
foi engolido pela inacreditável complexidade de sua obra e seu perfeccionismo
em termos de detalhes é impressionante e comovente. Os capítulos 11 e 12 seguem
com essa batalha, a publicação de O Senhor dos Anéis, as crescentes desavenças
com C. S. Lewis, a desilusão com o mundo moderno, e como a obra mais conhecida
do Professor se revela como uma crítica ao que ele via de errado com a
sociedade. O capítulo ainda descreve não somente o desprezo de Tolkien pelo nazismo,
como a profunda desconfiança contra a Rússia comunista. Sem surpresas, aliás.
O
capítulo 13 descreve os últimos anos do Professor, enquanto no 14 somos
brindados com as ácidas palavras de críticos contra sua obra, tornada
mundialmente ainda mais famosa com os filmes de Peter Jackson e a subsequente
explosão do interesse por seu inigualável trabalho. Não por acaso, esse último
capítulo tem o título A Lenda Vive!
Para
arrematar O Senhor da Fantasia, o material extra contém algumas fotos sobre a
vida do Professor, uma cronologia dos fatos de sua trajetória, uma extensa
bibliografia, sites e um índice. Uma obra sensacional e emocionante, que não
pode faltar na estante dos fãs do maior contador de histórias de todos os
tempos.
- Mandou bem, Darkside!
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