quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Resenha: Mil Léguas Transamazônicas




            Minha história com esta magnífica HQ, cujo nome completo é: Uma Aventura de Verne & Mauá – Mil Léguas Transamazônicas - A Magnífica Viagem de um Banqueiro e um Escritor pelos Céus do Brasil, tem sido bem incomum. A partir de 2015, em vários eventos de quadrinhos aos quais compareci, sempre a encontrava em algum stand e sempre me chamava a atenção pela participação do mestre Julio Verne, nada menos que o Pai da Ficção Científica.

            Finalmente, no Festival Guia dos Quadrinhos de 2017, tomei vergonha na cara e a comprei, e claro que aproveitei para pegar os autógrafos dos autores, os mestres Spacca e Will. Vejam nossas fotos com eles para provar!

SPACCA
WILL
            Mas vida de escritor, jornalista e leitor não é fácil, a pilha de leitura foi aumentando, e nunca encontrava tempo de dar a atenção que o livro merecia. E calhou que, finalmente, neste 04 de dezembro de 2019, decidi lê-la.

            Estou completa e absolutamente encantado!

            Maravilhado!

            Embasbacado!

            Realmente, caí de amores por Mil Léguas Transamazônicas, tranquilamente uma das melhores histórias em quadrinhos que já li na vida! E, como este dia 04 foi meu aniversário, posso acrescentar que Will e Spacca me deram um senhor presente!

            Obrigado, mestres!

            Os dois autores escrevem prefácios para a HQ, e o de Spacca me chamou atenção quando Will, de quem foi a ideia original para a história, lhe indicou algumas leituras para compor o roteiro. Evidentemente, para escrever a história de uma aventura entre o escritor Julio Verne e o empresário Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá. E sim, como a maioria dos leitores também, infelizmente, pouco sei sobre esse brasileiro da segunda metade do século XIX que ousou buscar a excelência para modernizar o então Império.





            O livro indicado, aliás, Mauá – Empresário do Império, de Jorge Caldeira, da Cia das Letras, tem a seguinte sinopse:


“Pioneirismo, guerras, intrigas, reis e escroques: a carreira do visconde de Mauá (1813-1889) teve de tudo. Para montar a primeira indústria - um grande estaleiro e uma fundição em Niterói -, a primeira estrada de ferro e o primeiro banco a operar em grande escala no Brasil, ele teve de brigar contra uma sociedade provinciana, que considerava o feitor de escravos como o melhor gerente de recursos humanos.
Quando expandiu seus negócios em escala planetária, com dezessete empresas em seis países, aí sim vieram os grandes adversários. Banqueiros internacionais, ditadores latinos, políticos de alto coturno e figuras da sociedade passaram a fazer parte da luta diária do visconde, numa história que se confunde com a do próprio nascimento de um país chamado Brasil.”


            Sim, acabou de entrar na lista de leituras!

           Entre as cenas iniciais da história está uma conversa entre Julio Verne e seu editor, Pierre-Jules Hetzel. Logo passa para os problemas domésticos do escritor, quando ele recebe a visita do Barão de Mauá propondo uma aventura pelos céus do Brasil, a fim de instituir uma companhia de navegação aéreo-fluvial. Para o espantado Verne, Mauá revela que se inspirou em sua obra para construir o Uirapuru, navio com capacidade de voo que o escritor via somente como ficção.


            Concretiza-se então o que Hetzel havia previsto duas páginas antes: “os cientistas do amanhã lerão seus livros, e sua obra despertará vocações”. Antes, o editor havia dito que “a ciência liberta”.
           
Já começa a ficar claro porque caí de amores por Mil Léguas Transamazônicas, não é?

            Mas assim que nossos heróis iniciam a viagem da Europa para o Brasil já descobrimos que Mauá tem muitos inimigos, que não toleram sua independência, seu sucesso, e sua postura totalmente contrária a Guerra do Paraguai. Ou seja, nosso país não mudou tanto assim de 1865 para cá... Eles chegam ao Rio de Janeiro, Verne inadvertidamente conhece o Dr. Semana, maquiavélico repórter que tem muitos contatos com o governo do Império e é um ferrenho inimigo do Barão.

            Mas este está preparado, e nem mesmo uma batida da polícia é capaz de descobrir a grande novidade. E, finalmente, durante o desfile de carnaval, o Uirapuru decola para sua epopeia! No caminho eles acolhem um tripulante involuntário, Angelo Agostini, pioneiro nas caricaturas e críticas contra a elite e o governo no Segundo Império, e a HQ ainda menciona seu jornal Diabo Coxo, que existiu entre 1864 e 1865. Depois de fugir dos paraguaios em Corumbá eles são ajudados pelos índios Bororós, enquanto os inimigos de Mauá tramam no coração do Império.

            Julio Verne expõe a eles as diversas lendas sobre as guerreiras Amazonas, enquanto é aprovada uma lei abrindo a navegação pelo Amazonas para as companhias estrangeiras. E prejudicando aquelas brasileiras, no caso, as de Mauá. Mas o Barão tem experiência naquelas disputas, e um estranho artefato os coloca na pista das Amazonas.

            Após um inesperado confronto com inimigos estrangeiros, eles são recebidos pelas legendárias guerreiras, fazendo espantosas descobertas. Mauá, Verne e Agostini finalmente se despedem, retornando para suas atividades particulares e prometendo uma nova aventura. Onde será? Império Russo? Na Lua? No fundo do mar?

            Acontece um epílogo na página final, mas dele nada descreverei. Só digo que não existe a palavra Fim, o que a nós, criadores e sonhadores, abre um universo de possibilidade! No texto de Laudo Ferreira, roteirista e desenhista, que vem a seguir, ele chama Verne e Mauá de empreendedores do futuro, daquele que devemos acreditar e ter fé. Apostar no melhor do ser humano, de que há muito mais adiante, resumindo: “uma boa aventura, aquela que nos deixa com uma absoluta sensação de fé e esperança no melhor que o ser humano pode trazer e levar adiante”.

            Duas belíssimas páginas de extras, com um pôster do Uirapuru que, em tamanho grande, eu adoraria ter na parede do meu quarto, e a evolução da produção de uma página, desde o roteiro de Spacca até os sucessivos tratamentos de Will, completam essa edição preciosa, lindíssima, e deliciosa de ler!

            Fazia muito tempo que não me sentia assim após uma leitura, de alma lavada, e com o sentimento descrito acima. Isso é tudo que um autor almeja que seus leitores sintam, e só tenho a agradecer aos mestres Spacca e Will por essa maravilhosa aventura!

            Quero mais! Muito mais!





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