Estar
em um relacionamento é muito bom.
Estar
em um relacionamento em que sua cara metade tem os mesmos gostos que você,
então, é ainda melhor. No caso, e sendo este primeiro de tudo um blog
literário, o gosto pela leitura a dois tem sido um dos melhores aspectos de
estar com a Má.
Aí,
quando sua amada lhe pede para ler um livro, você, claro, não pode recusar!
E
foi o que aconteceu quando a Má me pediu para... ler um livro de menininha!
Ah,
o amor... o que não fazemos por ele, não é mesmo?
Ela
havia falado muito a respeito de A Pequena Livraria dos Sonhos, que na verdade
não era um “simples” livro de menininha, que tinha montes de referências nerd
(coisa que, claro, amamos), e além de tudo era um livro sobre livros e amantes
de livros, então quando me pediu para ler não reclamei nada, disposto a tirar a
prova.
Achei
legal que a obra já começa com “Uma mensagem aos leitores”, em que a autora
Jenny Colgan nos convida a explorar os mais diferentes locais para ler. Na
banheira e andando na rua me parecem arriscados, mas alguns definitivamente eu
já vivi. Gozado como alguns itens realmente dão aquele tom de cumplicidade com
leitores, como “momentos ‘roubados’ para ler”.
Minha
preferência, claro, é bem aconchegado em casa, no quarto ou na sala. Não gosto
de ler (e nem escrever) com música, mas consigo degustar um livro com a TV
ligada numa boa. A da Má é no sofá ou na cama ou num parque, mas sempre em silêncio,
para viver tudo do livro, a menos que o autor tenha deixado uma playlist para o
capítulo, o que faz a experiência ainda mais interessante.
Já
nos primeiros capítulos somos apresentados a Nina, bibliotecária que sente o
desespero tomando conta de sua vida, já que a biblioteca em que trabalha vai
fechar, e os chefes responsáveis querem concentrar esse tipo de serviço em uma
central multimídia repleta de atendentes jovens e “descolados”.
A
situação para uma leitora compulsiva como Nina é intolerável, e em meio ao
desespero de ficar desempregada ela se dedica a salvar quantos livros consegue
da biblioteca, antes que sejam descartados. Sua melhor amiga, Surinder, com
quem mora em Birmingham, quase enlouquece no processo, pois a casa delas já é
abarrotada com os livros de Nina, e ela traz mais volumes a cada dia lotando
seu pequeno carro, um Mini Metro.
Conhecemos
ainda o colega de Nina, Griffin, que inadvertidamente dá à garota a ideia que
mudaria sua vida, aquele empurrãozinho que faltava. Nossa heroína sempre quis
ter sua própria livraria, e quando ele menciona que existem pessoas que transformaram
veículos em livrarias móveis, a ideia fica germinando na mente de Nina.
Em
meio ao processo de desmontagem da biblioteca e de entrevistas para tentarem
ser aceitos no tal centro de mídia, Nina procura por veículos adequados, e
acaba encontrando uma antiga van, mas há um problema: ela está nas Terras Altas
da Escócia. Mas ter uma livraria só sua sempre foi seu sonho, e a garota por
fim toma um ônibus. O interessante da forma de escrever de Jenny é que ela vai descrevendo
à perfeição situações e lugares, sem nunca se alongar demais.
Um
bom exemplo é precisamente a primeira viagem de ônibus de Nina para a Escócia,
em que ela tenta se concentrar no livro que levou, mas acaba desistindo para
apreciar a inigualável paisagem que passa pela janela.
E
ela chega enfim a Kirrinfief, cidadezinha em um pequeno vale das Terras Altas
cuja descrição imediatamente nos encanta. Conhecemos o pub local administrado
por Alasdair e frequentado por Edwin e Hugh, e ela finalmente conhece a van.
Idas
e vindas e Nina finalmente se decide, retorna a Kirrinfief e compra a van, mas
a burocracia de Birmingham impede que ela leve o veículo para a cidade grande.
A única alternativa é se mudar para a Escócia, e o sentimento de abandono de nossa
heroína é palpável nas letras de Colgan.
Mas
aos poucos Nina vai se ajeitando, aluga uma casinha na fazenda do mal-humorado
fazendeiro Lennox, e começa a viajar entre as cidadezinhas e suas feiras,
atraindo muitos clientes. E em meio a citações de livros, romances e o clima
incrível daquele lugar tão diferente, o livro realmente se torna irresistível.
A
Pequena Livraria dos Sonhos foi mesmo uma ótima surpresa, divertido, dramático
(drama, drama, drama) e conforme fui descobrindo, uma boa aula sobre como
escrever conforme o ponto de vista feminino. Eu e a Má até conversamos sobre a
Jornada do Herói de Nina, que realmente se aplica à sua grande aventura,
passando pelos demais personagens, o sentimento romântico que ela experimenta
com certo maquinista de trem, até um improvável, mas ao mesmo tempo previsível
romance.
É
realmente impossível não se identificar com nossa heroína Nina, e torcer muito
por ela nessa ventura recheada de muitos livros e descrições sobre as tradições
da Escócia. Deu muita vontade de ir morar em Kirrinfief.
A
Má já me passou outro livro de Jenny Colgan, A Padaria dos Finais Felizes.
Breve mais uma resenha de “livro de menininha” aqui no blog.
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