terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

Resenha: A Pequena Livraria dos Sonhos


            Estar em um relacionamento é muito bom.

            Estar em um relacionamento em que sua cara metade tem os mesmos gostos que você, então, é ainda melhor. No caso, e sendo este primeiro de tudo um blog literário, o gosto pela leitura a dois tem sido um dos melhores aspectos de estar com a Má.

            Aí, quando sua amada lhe pede para ler um livro, você, claro, não pode recusar!

            E foi o que aconteceu quando a Má me pediu para... ler um livro de menininha!


            Ah, o amor... o que não fazemos por ele, não é mesmo?

            Ela havia falado muito a respeito de A Pequena Livraria dos Sonhos, que na verdade não era um “simples” livro de menininha, que tinha montes de referências nerd (coisa que, claro, amamos), e além de tudo era um livro sobre livros e amantes de livros, então quando me pediu para ler não reclamei nada, disposto a tirar a prova.


            Achei legal que a obra já começa com “Uma mensagem aos leitores”, em que a autora Jenny Colgan nos convida a explorar os mais diferentes locais para ler. Na banheira e andando na rua me parecem arriscados, mas alguns definitivamente eu já vivi. Gozado como alguns itens realmente dão aquele tom de cumplicidade com leitores, como “momentos ‘roubados’ para ler”.

            Minha preferência, claro, é bem aconchegado em casa, no quarto ou na sala. Não gosto de ler (e nem escrever) com música, mas consigo degustar um livro com a TV ligada numa boa. A da Má é no sofá ou na cama ou num parque, mas sempre em silêncio, para viver tudo do livro, a menos que o autor tenha deixado uma playlist para o capítulo, o que faz a experiência ainda mais interessante.

            Já nos primeiros capítulos somos apresentados a Nina, bibliotecária que sente o desespero tomando conta de sua vida, já que a biblioteca em que trabalha vai fechar, e os chefes responsáveis querem concentrar esse tipo de serviço em uma central multimídia repleta de atendentes jovens e “descolados”.

            A situação para uma leitora compulsiva como Nina é intolerável, e em meio ao desespero de ficar desempregada ela se dedica a salvar quantos livros consegue da biblioteca, antes que sejam descartados. Sua melhor amiga, Surinder, com quem mora em Birmingham, quase enlouquece no processo, pois a casa delas já é abarrotada com os livros de Nina, e ela traz mais volumes a cada dia lotando seu pequeno carro, um Mini Metro.


            Conhecemos ainda o colega de Nina, Griffin, que inadvertidamente dá à garota a ideia que mudaria sua vida, aquele empurrãozinho que faltava. Nossa heroína sempre quis ter sua própria livraria, e quando ele menciona que existem pessoas que transformaram veículos em livrarias móveis, a ideia fica germinando na mente de Nina.

            Em meio ao processo de desmontagem da biblioteca e de entrevistas para tentarem ser aceitos no tal centro de mídia, Nina procura por veículos adequados, e acaba encontrando uma antiga van, mas há um problema: ela está nas Terras Altas da Escócia. Mas ter uma livraria só sua sempre foi seu sonho, e a garota por fim toma um ônibus. O interessante da forma de escrever de Jenny é que ela vai descrevendo à perfeição situações e lugares, sem nunca se alongar demais.

            Um bom exemplo é precisamente a primeira viagem de ônibus de Nina para a Escócia, em que ela tenta se concentrar no livro que levou, mas acaba desistindo para apreciar a inigualável paisagem que passa pela janela.


            E ela chega enfim a Kirrinfief, cidadezinha em um pequeno vale das Terras Altas cuja descrição imediatamente nos encanta. Conhecemos o pub local administrado por Alasdair e frequentado por Edwin e Hugh, e ela finalmente conhece a van.

            Idas e vindas e Nina finalmente se decide, retorna a Kirrinfief e compra a van, mas a burocracia de Birmingham impede que ela leve o veículo para a cidade grande. A única alternativa é se mudar para a Escócia, e o sentimento de abandono de nossa heroína é palpável nas letras de Colgan.

            Mas aos poucos Nina vai se ajeitando, aluga uma casinha na fazenda do mal-humorado fazendeiro Lennox, e começa a viajar entre as cidadezinhas e suas feiras, atraindo muitos clientes. E em meio a citações de livros, romances e o clima incrível daquele lugar tão diferente, o livro realmente se torna irresistível.


            A Pequena Livraria dos Sonhos foi mesmo uma ótima surpresa, divertido, dramático (drama, drama, drama) e conforme fui descobrindo, uma boa aula sobre como escrever conforme o ponto de vista feminino. Eu e a Má até conversamos sobre a Jornada do Herói de Nina, que realmente se aplica à sua grande aventura, passando pelos demais personagens, o sentimento romântico que ela experimenta com certo maquinista de trem, até um improvável, mas ao mesmo tempo previsível romance.

            É realmente impossível não se identificar com nossa heroína Nina, e torcer muito por ela nessa ventura recheada de muitos livros e descrições sobre as tradições da Escócia. Deu muita vontade de ir morar em Kirrinfief.

            A Má já me passou outro livro de Jenny Colgan, A Padaria dos Finais Felizes. Breve mais uma resenha de “livro de menininha” aqui no blog.


Nenhum comentário:

Postar um comentário