Ser
leitor é mergulhar em outros mundos, outras vidas, outros lugares e outros
mundos. É fugir, viajar e sonhar. É também, por vezes, encarar seus próprios
medos. Acredito que de todos os medos do ser humano um dos piores seja o de não
ser completo, não poder viver a vida de forma independente. Sentir-se um fardo
para os outros.
E
essa é a vida de Leon, que conta a história como o protagonista de Meu Mundo
Meu, de José Waeny. Encontrei alguma dificuldade em classificar o gênero do livro,
embora com certeza o considere uma ficção científica. O pequeno texto da capa
fala sobre entendimento sobre a vida, e na contracapa surge a pergunta “Qual é
o seu lugar?”. Eu diria que Meu Mundo Meu é uma ficção científica
espiritualista.
Nascido
com severa deficiência, Leon chega à puberdade e tem seus momentos de escapismo
em programas na TV que sobrevoam as mais variadas paisagens. Assim ele se
imagina voando, e fica surpreso quando começa a sentir que tem companhia nesses
passeios mentais.
Quando
ganhou de presente um computador, Leon começou a pesquisar sobre variados
assuntos, e por fim chegou ao tema de anjos e espíritos. Ele logo conhece
aquele que se tornará seu melhor amigo, Uri, pesquisador de Física, e que terá
um papel muito importante na história.
As
experiências extracorpóreas de Leon logo evoluem, e ele começa a sobrevoar o
que vê como um mundo extraordinariamente avançado, que chama de “meu mundo”.
Mas conforme a história se desenvolve logo descobrimos que aquele mundo é muito
real, e situado em outro plano existencial além do nosso, distante no espaço e
no tempo.
Em
meio a muitos conceitos familiares para os fãs de ficção científica, incluindo
nossa querida velocidade de dobra, Leon vai aprendendo com Uri os mais
avançados conceitos científicos, ao mesmo tempo em que trava contato com os
habitantes do planeta Abrium, aquele que ele chama de “meu mundo”. Gork, seu
amigo que vive naquele planeta, lhe apresenta a um conceito um pouco diverso do
que podemos chamar de Deus, e por fim o ajuda quando sua debilidade física se
acentua.
Portais,
viagens espaciais e no tempo, dilatação temporal, clonagem... são vários os
conceitos dos limites da ciência discutidos no livro de José Waeny. Além de
alertas quanto á destruição da natureza e quanto à própria condição humana. Há
muitos diálogos filosóficos sobre a vida após a vida terrena, e vários
habitantes de Abrium foram transferidos após seu desencarne em outros mundos,
até mesmo na Terra.
O
livro mescla de forma incrível as discussões nos campos espiritualistas,
científicos e da ficção. Há naturalmente diferenças na vida entre a Terra de
nosso tempo e Abrium, mas nada disso importa para Leon quando finalmente
consegue fazer a transição e se sentir completo. O final descreve situações
muito interessantes, e até, no meu entender, possíveis conflitos, que até já
sugeri ao José explorar em uma possível sequência.
Meu
Mundo Meu é um daqueles livros que consegue transitar muito bem entre vários
gêneros, e mesmo quando tem que explorar assuntos mais sérios e pesados, como a
deficiência de Leon na Terra, consegue fazê-lo com leveza. Uma ficção
científica espiritualista não é algo que encontramos todo dia, e Meu Mundo Meu
é uma excelente dica que pode depois render inúmeras boas discussões
filosóficas, sobre o lugar de cada um de nós neste e outros mundos.
Afinal,
viajar é o primeiro objetivo de qualquer livro, não?
Excelente resenha!
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