quinta-feira, 20 de agosto de 2020

QUADRINISTA: RENATO CAMBRAIA

 

Renato Cambraia
@rcambraia

1. Como e quando você começou a se interessar pelas HQs?

Como eu curtia desenhar desde muito novo, tinha uma atração natural por tudo o que era desenhado. Minha mãe aproveitou isso e me ensinou a ler basicamente com gibis da Turma da Mônica e da Disney, antes mesmo de eu entrar pra escola. Eu viciei naquilo, e todo domingo meu pai me levava na banca. Isso foi lá pelo final da década de 70, em Paraguaçu Paulista, interior de SP.



2. Lembra qual foi o primeiro quadrinho que te cativou?
Eu adorava as histórias longas do Pato Donald escritas pelo Carl Barks, tipo a Perdidos nos Andes, O Segredo do Castelo, etc. Eram histórias muito ricas, tanto no roteiro quanto nos detalhes. Há uns dois anos atrás inclusive ganhei de aniversário uma coleção capa dura de 4 volumes só com essas histórias!



3.  Como os quadrinhos influenciaram sua vida?
Gostar de gibis na infância me levou a curtir ouvir e contar histórias. Isso naturalmente me levou a gostar muito de ler livros. Sempre fui um aficionado por literatura – fazia na época o que a gente faz com séries hoje – maratonava mesmo! E gostar de ler sempre facilitou também meu aprendizado de forma geral. Então, em síntese, ler gibis me levou a gostar de aprender.
Aliás, estou fazendo exatamente a mesma coisa com meus filhos. Tenho dois, o Rafael (9 anos) e a Manuela (6 anos). Ambos aprenderam a ler em casa, sempre com muito gibi no meio. O Rafa é completamente viciado na Turma da Mônica, aliás!



4.  Na hora de ler, qual gênero de HQ prefere?
Gosto mais de quadrinhos autorias, com experiências reais ou histórias reflexivas e originais. Mas vario bastante, e de vez em quando leio alguma de super-herói, zumbi ou outras coisas do tipo.


5.  Qual seu quadrinho favorito? Por quê?
Não tenho bem um favorito, mas se fosse pra eu indicar uma HQ pra quem nunca leu nenhuma, seria a seguinte lista:
Maus, do Art Spiegelman;




As Três Sombras, do Cyril Pedrosa;
Persépolis, da Marjane Strapi;
Duas Vidas, do Fabien Toulmé;
The Sandman, do Neil Gaiman;




Tungstênio, do Marcello Quintanilha.
Tem muitos outros, claro, mas esses estão sempre na minha cabeça.


6.  Quando e como começou a desenhar? Acompanhou algum curso/livro?

Comecei acho que como quase todo desenhista começa, quando criança mesmo. Aquela coisa de rabiscar tudo, paredes, armários, carro (esse foi com uma pedra, coitado do meu pai). Apesar dessas coisas, meus pais me estimularam muito na infância. Meu pai, engenheiro civil (assim como eu), fazia seus projetos no nanquim e papel vegetal. Era um paraíso pra mim, todas aquelas canetas e penas! Mas nunca fiz um curso formal de desenho na juventude, basicamente desenhava observando os cartunistas que eu curtia, como Angeli, Laerte, Glauco e Adão. Mas depois que entrei na faculdade, aqui em São Paulo, fiquei alguns anos sem desenhar praticamente nada.


7.  Como surgiu seu personagem?

Depois que me formei, voltei pra Paraguaçu em 98 e comecei a escrever crônicas para um jornal local, o A Semana. O pessoal do jornal começou a curtir minhas bobagens e acabou me dando uma página inteira pra editar. Convidei alguns amigos pra ajudar (o Marinho, o Foca e o Zé Ricardo) e inauguramos o Beco, uma página semanal que durou pouco mais de 100 edições. Fiz alguns quadrinhos lá, mas basicamente eu escrevia crônicas mesmo. Nessa época surgiu meu único personagem, o Pato. Era basicamente um alter ego claramente influenciado pelo mundo Disney e viveu um tempo através de algumas tirinhas. Mas ele não existe mais (ainda bem!).
Em 2006 muita coisa mudou, eu conheci o amor da minha vida (a Juliana), nos casamos e logo depois tive que assumir meu atual trabalho e em 2010 o Rafa nasceu. Entre 2006 e 2013, abandonei completamente o desenho.
Todo esse tempo sem criar foi muito prejudicial pra mim, e essa história não caberia aqui. Mas o que importa é que no começo de 2013 resolvi voltar a criar, depois de comprar um iPad e descrobir um aplicativo que mudou minha vida (Paper, https://www.fiftythree.com). E mais, decidi que iria publicar no Facebook, mesmo que achasse tudo uma porcaria. Criei uma página chamada Beco* em homenagem aos good old times e postava lá meus rabiscos. Aliás, continuo postando, tanto lá como no Instagram**.



8.  Onde busca inspiração para criar?
Gosto muito de falar de costumes, das coisas da vida. De relacionamentos, de educação infantil, das coisas boas e ruins que nós, humanos, acabamos fazendo. Então, basicamente a inspiração vem das coisas que me aparecem durante o dia, em qualquer lugar ou situação. As ideias de um cartum ou quadrinho nunca vêm enquanto eu desenho (em geral), então tenho um bloco de notas no celular pra anotá-las. Quando eu sento pra desenhar, é porque a ideia já está mais ou menos formada na cabeça.


9. Na hora de trabalhar/criar, tem alguma mania?
Como eu não vivo de quadrinhos, eu desenho quando dá, então não tenho horário fixo pra isso. Esse é um dos motivos que só desenho no iPad. Dá pra levar em qualquer lugar e único recurso que preciso é a caneta e energia. Infelizmente não posso me dar o luxo de ter alguma mania tipo “só desenho na minha cadeira favorita, com a cortina em 35% e ouvindo Brahms”, então vai desde a mesa da sala, o balcão da cozinha e, algumas vezes – só algumas vezes - o banheiro.



10. Qual a maior dificuldade encontrada na hora de criar?
Eu não tenho dificuldade na hora de desenhar propriamente dita, minha maior dificuldade é acreditar que vou ter uma próxima ideia. Cada vez que publico algum cartum, tirinha ou quadrinho, meu eu interior me diz “já deu, essa aí foi a última, você nunca mais vai ter nenhuma ideia”. Mas estou aprendendo a cada dia ignorar mais esse cara.


11. Existe algum tema que se recusaria a usar nos seus trabalhos? Por quê?
Eu não curto muito fazer cartum de política. Claro que o comportamento do ser humano é intrinsicamente ligado ao mundo político em geral, então de vez em quando sai alguma coisa com uma dose de política meio que de fundo, mas em geral é pra provocar alguma reflexão sobre nosso próprio comportamento. Mas aquele cartum político direto, de crítica a um lado ou a outro, não curto fazer mesmo. Já tem muita gente fazendo isso, não tenho vontade nenhuma. É uma coisa importante e tem que ser feita, claro, mas... não por mim.



12. O que vem por aí?
Tenho muita vontade de escrever um livro infantil. Sou obrigado aqui em casa a contar histórias para meus filhos (eles gostam das “da sua cabeça, papai”), e possivelmente algumas poderiam funcionar num livrinho. Queria tentar fazer isso ainda esse ano, vamos ver.
Também tenho tido vontade de fazer uns quadrinhos mais longos do que um cartum, tipo de uma página. Talvez iniciar aí um caminho pra uma HQ de verdade, quem sabe?



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