Thiago Cardim, 35 anos,
publicitário e jornalista é o atual editor do portal de cultura pop JUDÃO, foi criador do site A ARCA, considerado por muitos
anos uma referência em conteúdo nerd. Co-criador dos Combo Rangers, a primeira
grande HQ online brasileira, tem passagens em projetos de conteúdo por sites
como Submarino e AOL Brasil, além de ter trabalhado por cinco anos dentro do
mercado de cinema na distribuidora e exibidora nacional PlayArte. Estudioso do
mundo dos quadrinhos e crítico musical, prepara o lançamento de seu primeiro
livro para breve
Contatos: www.judao.com.br
twitter: @thiagocardim
Ainda criança. Na
real, aprendi a ler com gibis. A Turma da Mônica foi a minha iniciação no mundo
da alfabetização, quando pais e avós liam pra mim. Logo depois, foram os
quadrinhos Marvel e DC. Lembro claramente que o primeiro gibi que li na vida,
sozinho, foi um do Capitão América, uma história com o Falcão e desenhada pelo
John Byrne. Nunca mais parei. Jamais.
Como disse, a Turma
da Mônica abriu os trabalhos, sempre adorei o Cascão e os encontros dele com o
Capitão Feio – mas o gibi que me marcou, que mexeu comigo, que me cativou e
carimbou aquele que seria para sempre o meu personagem favorito, foi o
Homem-Aranha.
3. Como os quadrinhos influenciaram sua vida?
Em tudo. O
Homem-Aranha ajudou a me dar noção de caráter. Os X-Men me ensinaram sobre
preconceito. O Batman me ensinou que o maior superpoder que se pode ter é a
inteligência. Foram os quadrinhos que me fizeram querer trabalhar com
comunicação. Foi graças aos quadrinhos que soube que queria escrever, que
refinei o meu texto, que passei a ter ainda mais interesse pela literatura,
digamos, “tradicional”. Literatura e português se tornaram, junto com história,
as minhas matérias favoritas na escola.
Geralmente, leio
mais quadrinhos de super-heróis que tenham uma pegada mais de ficção
científica, aventura, ação... Mas isso não é regra. Sou um eterno
experimentador. Adoro novidades. Adoro quando um autor me surpreende. Gosto de
sair dos americanos e mergulhar nas loucuras dos europeus, nos estudos de
diferentes linguagens dos japoneses.
Bicho, esta é a
questão mais difícil EVER. Rs. Olha, eu arriscaria dizer que talvez o autor que
mais mexe comigo seja o finado e saudoso Will Eisner. “No Coração da
Tempestade”, meu, me faz chorar sempre que releio. E acho que releio no mínimo
uma vez por ano. Mas a pergunta “qual o seu quadrinho favorito” me traz à mente
uma dezena de títulos – do belo e poético “O Garoto Que Colecionava
Homem-Aranha”ao anárquico “V de Vingança”, passando por “Akira”, o Monstro do
Pântano do Alan Moore, o Homem-Animal do Grant Morrison, Asterix e Obelix,
Calvin & Haroldo, Angeli, Laerte...
Como jornalista
especializado em quadrinhos, foi por volta de 1997, quando comecei a escrever
no antigo site PQP, que tinha uma URL popular mas bem mal-educada (rs). Era uma
espécie de grande fanzine nerd/de humor, no qual trabalhei ao lado do Marcelo
Forlani, um dos criadores do Omelete, por exemplo. Dali, nunca mais parei.
Sempre. Nunca
sequer me imaginei fazendo nada diferente. Fui cursar a faculdade de
publicidade porque sabia que era o curso/profissão ao qual alguns dos
quadrinistas mais famosos do mercado brasileiro se dedicaram. Antes do
vestibular, tive exatos 3 meses de dúvida em que pensei em trabalhar com
direito/advocacia. Mas passou. :D
É sensacional.
Vivemos um momento em que os produtos culturais que outrora apenas atingiam um
nicho muito específico, os “nerds”, hoje chegam a um universo bem maior de
pessoas. Existe quem se incomode com isso. Mas eu quero é mais. Quero mais
gente lendo gibis. Quero cada vez mais gibis abordando a questão da
diversidade. Mais mulheres lendo gibis, sendo retratadas da maneira correta,
virando super-heroínas. Mais quadrinhos atraindo latinos, negros, islâmicos,
gays... Mais quadrinhos questionando e ajudando a questionar. É este o nosso
momento hoje. E eu quero é MAIS.
Como jornalista,
meu trabalho mais marcante é o atual – o JUDÃO. Cobrimos cultura pop com
profundidade, com o teor jornalístico da coisa mesmo. Tem apuração, tem
cruzamento de dados, tem opinião. E tem diversidade, tem discussão sobre temas
espinhosos. É um trabalho que tá dando um orgulho danado de fazer. E ver o
quanto está repercutindo. Além disso, temos dado um baita espaço para as HQs
nacionais, para que os autores brasileiros possam se mostrar, das as caras,
falar mais sobre seu trabalho. E com destaque!
É legal dizer ainda
que tive minha experiência prévia como roteirista de HQs – no caso, ajudando o
Fábio Yabu na criação e nos primeiros roteiros de Combo Rangers, a primeira HQ
online de renome aqui no Brasil, que marcou uma época. É um trabalho do qual me
orgulho bastante.
Eu devo lançar, em
breve, o meu primeiro livro – um livro de contos, contemporâneo, sobre o
universo masculino. E já estou negociando com um grande amigo quadrinista para
transformar um destes contos em uma HQ. Vejamos o que vem por aí.
Leiam. Mas leiam
muito. Leiam sem preconceitos. Leiam tudo que vem pela frente. Leiam como se
não houvesse amanhã, gibis de tudo que é autor, de tudo que é gênero, de tudo
que é nacionalidade. Leiam gibis e leiam sobre gibis. Discutam sobre gibis. E
apoiem os gibis.
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