quinta-feira, 9 de julho de 2015

ESPECIAL QUADRINHOS: Entrevista Thiago Cardim





Thiago Cardim, 35 anos, publicitário e jornalista é o atual editor do portal de cultura pop JUDÃO, foi criador do site A ARCA, considerado por muitos anos uma referência em conteúdo nerd. Co-criador dos Combo Rangers, a primeira grande HQ online brasileira, tem passagens em projetos de conteúdo por sites como Submarino e AOL Brasil, além de ter trabalhado por cinco anos dentro do mercado de cinema na distribuidora e exibidora nacional PlayArte. Estudioso do mundo dos quadrinhos e crítico musical, prepara o lançamento de seu primeiro livro para breve

Contatos: www.judao.com.br 
twitter: @thiagocardim



1.     Como e quando você começou a se interessar pelas HQs?

Ainda criança. Na real, aprendi a ler com gibis. A Turma da Mônica foi a minha iniciação no mundo da alfabetização, quando pais e avós liam pra mim. Logo depois, foram os quadrinhos Marvel e DC. Lembro claramente que o primeiro gibi que li na vida, sozinho, foi um do Capitão América, uma história com o Falcão e desenhada pelo John Byrne. Nunca mais parei. Jamais.

2.     Lembra qual foi o primeiro quadrinho que te cativou?

Como disse, a Turma da Mônica abriu os trabalhos, sempre adorei o Cascão e os encontros dele com o Capitão Feio – mas o gibi que me marcou, que mexeu comigo, que me cativou e carimbou aquele que seria para sempre o meu personagem favorito, foi o Homem-Aranha. 


3.     Como os quadrinhos influenciaram sua vida?

Em tudo. O Homem-Aranha ajudou a me dar noção de caráter. Os X-Men me ensinaram sobre preconceito. O Batman me ensinou que o maior superpoder que se pode ter é a inteligência. Foram os quadrinhos que me fizeram querer trabalhar com comunicação. Foi graças aos quadrinhos que soube que queria escrever, que refinei o meu texto, que passei a ter ainda mais interesse pela literatura, digamos, “tradicional”. Literatura e português se tornaram, junto com história, as minhas matérias favoritas na escola.

4.     Na hora de ler, qual gênero de HQ prefere?

Geralmente, leio mais quadrinhos de super-heróis que tenham uma pegada mais de ficção científica, aventura, ação... Mas isso não é regra. Sou um eterno experimentador. Adoro novidades. Adoro quando um autor me surpreende. Gosto de sair dos americanos e mergulhar nas loucuras dos europeus, nos estudos de diferentes linguagens dos japoneses.

5.     Qual seu quadrinho favorito? Por quê?

Bicho, esta é a questão mais difícil EVER. Rs. Olha, eu arriscaria dizer que talvez o autor que mais mexe comigo seja o finado e saudoso Will Eisner. “No Coração da Tempestade”, meu, me faz chorar sempre que releio. E acho que releio no mínimo uma vez por ano. Mas a pergunta “qual o seu quadrinho favorito” me traz à mente uma dezena de títulos – do belo e poético “O Garoto Que Colecionava Homem-Aranha”ao anárquico “V de Vingança”, passando por “Akira”, o Monstro do Pântano do Alan Moore, o Homem-Animal do Grant Morrison, Asterix e Obelix, Calvin & Haroldo, Angeli, Laerte...

6.     Quando e como começou a trabalhar na área?

Como jornalista especializado em quadrinhos, foi por volta de 1997, quando comecei a escrever no antigo site PQP, que tinha uma URL popular mas bem mal-educada (rs). Era uma espécie de grande fanzine nerd/de humor, no qual trabalhei ao lado do Marcelo Forlani, um dos criadores do Omelete, por exemplo. Dali, nunca mais parei.

7.     Trabalhar com HQ/cultura sempre foi um objetivo de vida?

Sempre. Nunca sequer me imaginei fazendo nada diferente. Fui cursar a faculdade de publicidade porque sabia que era o curso/profissão ao qual alguns dos quadrinistas mais famosos do mercado brasileiro se dedicaram. Antes do vestibular, tive exatos 3 meses de dúvida em que pensei em trabalhar com direito/advocacia. Mas passou. :D

8.     Como é trabalhar na “área nerd” hoje em dia?

É sensacional. Vivemos um momento em que os produtos culturais que outrora apenas atingiam um nicho muito específico, os “nerds”, hoje chegam a um universo bem maior de pessoas. Existe quem se incomode com isso. Mas eu quero é mais. Quero mais gente lendo gibis. Quero cada vez mais gibis abordando a questão da diversidade. Mais mulheres lendo gibis, sendo retratadas da maneira correta, virando super-heroínas. Mais quadrinhos atraindo latinos, negros, islâmicos, gays... Mais quadrinhos questionando e ajudando a questionar. É este o nosso momento hoje. E eu quero é MAIS.

9.     Algum trabalho mais marcante?

Como jornalista, meu trabalho mais marcante é o atual – o JUDÃO. Cobrimos cultura pop com profundidade, com o teor jornalístico da coisa mesmo. Tem apuração, tem cruzamento de dados, tem opinião. E tem diversidade, tem discussão sobre temas espinhosos. É um trabalho que tá dando um orgulho danado de fazer. E ver o quanto está repercutindo. Além disso, temos dado um baita espaço para as HQs nacionais, para que os autores brasileiros possam se mostrar, das as caras, falar mais sobre seu trabalho. E com destaque!
É legal dizer ainda que tive minha experiência prévia como roteirista de HQs – no caso, ajudando o Fábio Yabu na criação e nos primeiros roteiros de Combo Rangers, a primeira HQ online de renome aqui no Brasil, que marcou uma época. É um trabalho do qual me orgulho bastante.

10.  O que vem por aí?

Eu devo lançar, em breve, o meu primeiro livro – um livro de contos, contemporâneo, sobre o universo masculino. E já estou negociando com um grande amigo quadrinista para transformar um destes contos em uma HQ. Vejamos o que vem por aí.

11.  Algum recado para os leitores?

Leiam. Mas leiam muito. Leiam sem preconceitos. Leiam tudo que vem pela frente. Leiam como se não houvesse amanhã, gibis de tudo que é autor, de tudo que é gênero, de tudo que é nacionalidade. Leiam gibis e leiam sobre gibis. Discutam sobre gibis. E apoiem os gibis. 

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