Aproveitando,
nossa solidariedade aos funcionários demitidos pela Abril, que realizaram uma
manifestação nesta segunda, 15 de outubro, contra o descaso da família
responsável pela editora, que não honra os nomes de Victor e Roberto Civita.
Enfim,
por vezes o Universo conspira a favor, e em meados de julho tive parentes
visitando a santa terrinha de Portugal. Acompanhando o panorama da banda
desenhada, como são chamados os quadrinhos naquele país, descobri que nesses
mesmos dias seria lançada a edição 5 de Donald pela Goody, e mais que isso,
esta traria a história O Tempo Foge, da série de ficção científica As Novas
Aventuras do Superpato. Essa trama também viria acompanhada de Sal Quanto
Baste, um conto estrelado pela androide tempolicial Lyla Lay.
E
aqui vai uma confissão: já que dos 50 números de Novas Aventuras que saíram
originalmente na Itália somente 10 foram lançados no Brasil, terminei
por consegui-las em formato digital em um site dedicado ao Superpato. Daí que
já havia lido O Tempo Foge, e somente por isso sabia que essa história tem uma
ligação com Retrato de um Herói, publicada aqui em 1998 no número 4 de Novas
Aventuras, sendo a número 5 no original italiano, e que foi a primeira que li
dessa série. Não vou aqui entrar em detalhes a respeito para não dar spoilers,
mas apenas dizer que parte dessa ligação é a participação do diretor de
seriados da Patópolis do futuro Ducklas Styvesant, que na edição brasileira
recebeu o ótimo nome de Patúlio Estilbergue. Quando surgiu a oportunidade,
então, decidi pedir que me enviassem essa edição, para poder ler a história em
português.
Em
O Tempo Foge Superpato e Lyla estão à caça de dois criminosos temporais, o que
os leva a uma perseguição atravessando diversos períodos históricos. É pouco o
que posso contar sem dar spoilers, mas somente dizer que as ações de Styvesant
ou Estilbergue são uma declaração de amor ao cinema e TV! Já Sal Quanto Baste é
um conto com Lyla, e basta imaginarem as dificuldades de uma androide que não
necessita comer a fim de preparar uma refeição para os colegas do Canal 00,
onde ela é jornalista! Também vale comentar que as edições originais da New
Adventures italiana frequentemente traziam histórias curtas como extras nas
páginas finais. Algumas destas foram publicadas no especial As Novas Aventuras
do Superpato – A Origem em 2013, e o destaque maior vai para Pardal. Imaginem
que, com o auxílio da inteligência artificial Um, de Lyla e da avançadíssima
tecnologia da Ducklair Tower, o Superpato não tem mais espaço em sua vida para
o Professor Pardal, até para proteger o amigo.
Sim,
é de chorar.
Donald
5 da Goody ainda traz Donald e a Casa Assombrada, que ecoa um pouco Natal nas
Montanhas, a HQ de estreia do Tio Patinhas de autoria do mestre Carl Barks. E a
revista termina com A Incontrolável Gargalhada do Zé Carioca. O acabamento da
edição é primoroso, impressa em um papel melhor que os formatinhos da Abril,
132 páginas muito bem produzidas.
Pedi ainda outras duas edições no pacote, e estas foram um salto de qualidade ainda maior, pois são da série As Melhores Histórias Disney que a Goody está lançando em Portugal. Mais especificamente, são os dois primeiros números de Os Fabulosos Feitos de Fantomius – Ladrão Cavalheiro!
Todos
devem lembrar quando, aqui mesmo no Corujice Literária, analisamos a
maravilhosa Lendas Disney 1 – Superpato Original. Resumidamente, por uma feliz
coincidência Donald tomou posse da Vila Rosa, propriedade na periferia de
Patópolis que foi o esconderijo, no início do século XX, de um ladrão
sofisticado chamado Fantomius, que roubava dos ricos e dava aos pobres. Após
ler o Diário de Fantomius Donald decidiu se tornar o Superpato, e por muitos
anos o ladrão de casaca foi somente uma vaga lembrança nas aventuras do maior
herói Disney. As menções a Fantomius começaram a surgir aos poucos, e em
dezembro de 2002 a
primeira das histórias produzidas pelo quadrinista italiano Marco Gervásio foi
publicada na Topolino. A Sombra de Fantomius só seria publicada aqui em Disney
Big de fevereiro de 2012.
Marco
produziu outras três histórias entre 2007 e 2012, e finalmente em novembro de
2012 foi publicada na Topolino a primeira história totalmente dedicada ao
anti-herói. O Monte Rosa foi publicado no Brasil em setembro de 2013 na
maravilhosa Superpato – O Legado, que traria outras quatro tramas do ladrão de
casaca, acompanhadas de seis do Superpato além de uma entrevista com o autor.
As subsequentes histórias de Fantomius por Marco Gervásio foram presença
regular na revista do Tio Patinhas até a edição 634.
Claro
que pretendo, em uma série de artigos para o Escritor com R, esmiuçar mais
essas tramas, mas agora devemos nos dedicar às edições portuguesas da Goody. O
papel é de excelente qualidade e elas são um pouco maiores que as edições
Lendas, Saga e O Melhor da Disney Brasil, mas com menos páginas. A edição 1 de
Os Fabulosos Feitos de Fantomius começa com uma entrevista de Marco Gervásio,
na qual ele comenta como é fazer um personagem tão fora dos padrões Disney, um
anti-herói e ladrão cavalheiro que confronta a sociedade supérflua e corrupta
dos ricos de Patópolis. E tudo começou com a exata questão que sempre
atormentou a nós, fãs: quem era Fantomius, esse misterioso personagem que
inspirou Donald a se tornar o Superpato?
Gervásio
fala ainda como foi a elaboração de Dolly Páprika, noiva e parceira do ladrão
de casaca (que é como Fantomius era chamado nas HQs da Abril), e as invenções
de Copérnico Pardal, antepassado de nosso querido inventor. O autor detalha
como estudou as informações do início do século XX, especialmente dos anos
1920, para compor o cenário das aventuras, em que não faltam referências a
elementos da realidade e da literatura da época. Até uma pequena linha do tempo
de John Quackett, alter-ego de Fantomius, é apresentada, a mesma que foi publicada
em Superpato – O Legado.
As
histórias desse primeiro volume são O Monte Rosa, A Evasão de Fantomius,
Fantomius a Bordo e Brutfagor. Esta última, por sinal, ambientada em Paris, tem
a participação especialíssima de Hercule Paterot. Sim, a “versão pato” do
grande Hercule Poirot da Dama do Crime Agatha Christie, e que aqui no Brasil
recebeu o nome de Hercule Patorot. Alguns dos títulos estão somente um pouco
diferentes daqueles que saíram no Brasil, e de novo aguardem um pouco que vem
aí uma série de artigos a respeito.
Fantomius
a Bordo é a história com mais referências nesse volume, e uma que vale entregar
agora é um painel com Fantomius saindo do navio e onde se pode observar um
casal bem na ponta da proa deste... preciso descrever mais?
No número 2 da edição da Goody temos outra entrevista com Marco Gervásio, em que ele explica suas inúmeras referências cinematográficas. Na primeira história, a magnífica Silêncio na Sala, estas transbordam já que é uma homenagem ao cinema mudo, sendo que Marco explicou que foi inspirada pelo filme O Artista, de 2011. Boa parte da trama acontece nos estúdios Metro-Goldwyn-Pato, e Fantomius e seu perseguidor, o Comissário Pinko, perturbam diversas produções, incluindo Patoratu (ou Nosfepato, como saiu em O Legado). Nem preciso dizer que a história não tem balões de diálogo, né?
A
Maldição do Faraó, A Oitava Maravilha do Mundo e Fantomius na Neve são as
demais tramas desse segundo volume. A Oitava Maravilha do Mundo, aliás, é mais
uma homenagem a um dos filmes preferidos de Marco Gervásio, King Kong, e entre
outras tem uma espetacular referência a Julio Verne! E na última história temos
mais uma participação de Hercule Paterot, e que não é o único grande detetive a
aparecer nas histórias de Fantomius!
Os
Fabulosos Feitos de Fantomius – Ladrão Cavalheiro, já chegou ao número 5 em
Portugal, sendo que também foi lançado o número 0, trazendo as primeiras
histórias do Superpato de Marco Gervásio que funcionam como um prequel da série
de Fantomius. Três histórias inéditas já saíram na Topolino italiana, nos
números 3273, 3275 e 3280, e é doloroso saber que não há qualquer previsão de
serem publicadas no Brasil.
Bem,
nossos irmãos portugueses também experimentaram essa situação pouco tempo
atrás, e agora têm a sorte de poder contar com os ótimos lançamentos que a
Goody tem promovido em seu país. Pessoalmente fico pensando se conseguirei
algum dia completar essa coleção portuguesa de Fantomius, mas esses exemplares
já tem um lugar cativo em meus arquivos. Parabéns à Goody pela iniciativa, e
vamos aguardar se alguma importadora quem sabe comece a trazê-las para cá, ou
melhor ainda, que finalmente surjam as aguardadas notícias sobre o reinício de
publicação de quadrinhos Disney no Brasil.
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