quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Corujice Turma da Mônica e Liga da Justiça






            Em dezembro último, a Mauricio de Sousa Produções, em acordo com a DC Comics, lançou em suas revistas de linha o aguardado crossover entre a turma da Mônica e a Liga da Justiça. Os personagens das duas casas editoriais participaram juntos de histórias em que não faltaram ação, muito humor, e algumas referências para deixar qualquer fã de quadrinhos mais que satisfeitos.


 
            Houve, é claro, aquelas tramas um pouco mais fracas que as outras, mas sem que o resultado se mostre menos satisfatório. Apenas queríamos um pouco mais, por exemplo, de O Plano Infalível e a Lanterna Verde, em Mônica 44. Em mais um plano infalível, o Cebolinha precisa de ajuda do Anjinho para conseguir vários itens na cor verde, e um deles, claro, foi a Lanterna Verde. Um pequeno problema é quando o proprietário desta aparece, e justo o Cascão, o maior nerd da turma, diz que é o Arqueiro Verde! Pode isso?

            O Lanterna é enganado pelo Cebolinha, sendo levado a crer que a Mônica é a Madame Dentuça Cósmica. A garota, capturada, convence o Anjinho a trazer a Mulher-Maravilha, e claro que a briga corre solta depois. A coisa fica mesmo feia quando o Capitão Feio entra na história, mas aí, claro, a Turminha se une para derrotar o vilão.

            E esse era o plano do Lanterna Verde e da Mulher-Maravilha o tempo todo. Bom, funcionou, claro, e além do mais Hal Jordan, o Lanterna retratado, não é conhecido por ser uma das mentes mais brilhantes da DC... Mas tudo bem. Além do crossover o que torna a edição absolutamente obrigatória é a história Insubstituível, protagonizada pela Turma do Penadinho e escrita pelo grande roteirista Flavio Teixeira de Jesus como uma homenagem ao Museu Nacional.

            Prepare os lenços, pois as lágrimas serão inevitáveis!





            Em Cascão 44 saiu O Mestre dos Mares, uma improvável aventura com o Aquaman! Inclusive há uma capa alternativa onde o herói é retratado com a aparência que tem no filme, interpretado por Jason Momoa. Já assistiu, aliás? Sim, é o melhor da fase atual da DC, disparado! Cascão enfrenta Cúmulus, o vilão líquido, e na fuga acaba topando com o rei dos mares. Seu tridente foi parar nas mãos de Cúmulus, e durante a luta acaba sendo apanhado pelo Cascão! A história ficou divertida pela originalidade, pena que depois ninguém acredite em nosso herói.



            Em Magali 44 saiu outra história muito original, muita fome para muita velocidade. A Magali adora duas coisas, comer e gatos, e se desespera quando os estoques da padaria, do mercadinho, de todos os lugares onde costuma se abastecer estão vazios. Ela logo descobre que o responsável é o Flash (e até na primeira temporada da série atual do velocista essa necessidade de muitas calorias foi explorada). Outro fato estranho é que todos os gatos do bairro estão sumindo, incluindo o Mingau.

            Mas Magali e o Flash conseguem segui-lo até um prédio abandonado, e enquanto isso pensem, quem no Universo DC adora gatos?

            Claro, a Mulher-Gato, que pretende usar os bichanos como um exército. A luta, claro, é cheia de ação, mas o Flash consegue derrotar a vilã. Surge então o Batman, que descobriu que até a felina estava sendo manipulada pelo Coringa. Com direito até à aparição do clássico Batmóvel do filme de 1989 tudo termina bem em mais uma divertida história.



            Em Chico Bento 44 o encontro é entre o garoto da roça, a Mulher-Maravilha e o Superman, com direito a este em uma pose clássica da mais clássica ainda O Cavaleiro das Trevas de Frank Miller. Em Esperança os heróis visitam a fazenda dos Bento, e o contraste entre dois dos heróis mais poderosos e a pacata vida no campo é um ponto central na trama. Contudo coisas estranhas estão acontecendo, os bichos da fazenda do Chico escapando aparentemente sem motivo, e Clark e Diana decidem investigar.

            A história é uma das melhores do crossover, com direito a causos de monstros contados pelo Chico em torno de uma fogueira, ao que Diana e Clark desconversam com risos, um incêndio no celeiro dos Bento com mais cenas clássicas, no caso a camisa aberta de Clark mostrando o S (sabemos que não é um S, aliás!), e Diana dando a volta celebrizada na série de Lynda Carter para surgir nos trajes da Mulher-Maravilha. O responsável por tudo é descoberto como Luís Leite, novo vizinho que tenta reorganizar a vida após uma grande perda, e que tentava prejudicar os Bento para conseguir compradores para os produtos de sua própria fazenda.

            Os heróis lamentam mas dizem que Luís precisa enfrentar a justiça. Mas Chico comenta que ele merece uma segunda chance, pois o vizinho estava desesperado, e deveria ter exemplos melhores do que aqueles que o ludibriaram. O garoto diz que assim ele poderia voltar a ter esperança.

            O Superman diz ao Chico que a maior virtude de um herói é a bondade e compaixão, e que ele foi o herói da história. O kryptoniano tira então sua capa, e a coloca nos ombros do Chico! A excelente história termina com uma ótima piada sobre os óculos serem o disfarce do Superman.

            Por sinal duas histórias curtas estão também entre as melhores da edição. Em Na Calada da Noite o cachorro Fido é visitado por várias assombrações e seres de outro mundo, e em uma trama de uma página Chico e Rosinha se envolvem com um pedido a uma estrela cadente.
 
            Turma da Mônica 44 tem outra história imperdível do crossover, O Níver, quando a Turminha vai, acompanhada do próprio Mauricio, para a Fortaleza da Solidão para o aniversário do Superman. As referências já começam com a chave gigante da porta do complexo e a nave que trouxe o kryptoniano à Terra, idêntica a do magnífico filme de 1978 protagonizado pelo inesquecível Christopher Reeve.

            As referências não param quando descobrem que na verdade quem os recebeu é um robô, e o verdadeiro Superman está com um objeto estranho atrelado a seu peito, ao lado de um alienígena de pele amarela. Cebolinha, de Bat-menino, usa o Gúgol para descobrir que o vilão é Mongul, que ao lado de Superman, Mulher-Maravilha, Batman e Robin protagonizou a clássica história de Alan Moore Para o Homem que Tem Tudo, publicada pela primeira vez em 1985.

            Enquanto Xaveco, vestido de Aquaman, não acredita que o Superman caiu pela segunda vez na “pegadinha da planta esquisita”, que concede a suas vítimas uma realidade mental na qual todos os seus maiores desejos se realizam, Mongul fica se gabando diante das crianças vestidas de heróis. Mônica aproveita para livrar o Superman da planta com uma coelhada, porém o vilão chama seus colegas, Lex Luthor, Brainiac, Super-ciborgue e Mxyzptlk entre eles.

            Este último, porém, manda a Turminha para a Zona Fantasma, onde eles encontram... claro que o Penadinho! Ele diz que para sair dali só com a Esteira Cósmica, clássico artefato do Flash para viajar entre realidades paralelas. Mônica com seu coelhinho dá a “motivação” de que todos precisam para correr, e eles vão parar na luta do Batman em Silêncio, mas ao invés de ser contra o Superman é contra o Capitão Marvel.

            Sim, o Capitão Marvel de verdade é aquele que grita Shazam, veste traje vermelho com capa branca e raio amarelo, e não se fala mais nisso!

            O plano dos vilões, claro, é eliminar a lembrança do Superman em todas as realidades. Enquanto o kryptoniano luta contra eles, a Turminha salta entre universos e histórias. Outra referência é da Mônica erguendo um carro verde, lembrando a capa de Action Comics 1 de 1938, a primeira aparição do Superman. Eles encontram a Mulher-Maravilha, Supergirl, Doutor Meia-Noite, Homem-Hora e Lanterna Verde.


            E é muito “lame” usar o Bugu, o amigo amarelo do Bidu, para fazer o Lanterna Verdade retomar suas faculdades mentais... mas foi divertido!

            Aquaman com inevitáveis piadas e até coelhada no Arraia Negra, Flash e Aço fazem aparições, e finalmente a Liga da Justiça está pronta para o grand finale. E claro, Mongul leva uma merecida coelhada, e finalmente a festa do Níver pode começar.

            Evidentemente, entre as histórias da Turminha, a melhor de todas aconteceu em Cebolinha 44, Eu Trabalho Sozinho. E as inúmeras referências já começam na capa, homenageando a clássica pose de O Cavaleiro das Trevas de Frank Miller, com Mônica como a Robin de Carrie Kelley, Cebolinha como Robin de Tim Drake e Cascão de Asa Noturna. E claro que eles estão acompanhando ele, o maioral, o cara, o melhor de todos, o que sempre tem um plano.



            O Batman!

            Já na primeira página há uma referência à melhor encarnação do Cavaleiro das Trevas fora dos quadrinhos, a antológica Série Animada produzida entre 1992 e 1995. Bruce Wayne participa da festa de inauguração de um novo ginásio no Bairro do Limoeiro, financiado pela Fundação Wayne. Da Batcaverna, Alfred monitora a situação, pois o outro motivo da presença de nosso herói é que Arlequina está nas redondezas.

            A vilã se revela e rapta Marina, e enquanto todos assistem ao noticiário (sim, as telas de TV no lugar dos quadrinhos, outro clássico de O Cavaleiro das Trevas, e por sinal a apresentadora é a mesma, Lola Chong), Cebolinha está no quarto imaginando como pode ajudar. Nisso ele vê uma sinistra silhueta contra a lua, que vem a ser nosso herói novamente em uma pose clássica.

            Preocupada, Mônica vai visitar o amigo, e conversa com Cebolinha a meia-luz, com uma mesa entre eles... Piada Mortal, alguém disse?

            Enquanto isso Cebolinha percorre a noite vestido de Robin, e encontra o Morcego surrando o Capitão Feio e outros vilões. É, eles nunca poderiam se preparar para enfrentar essa força da natureza, mas nosso herói fala que aquele não é trabalho de criança. Só que em seguida chegam Asa Noturna (Cascão) e Robin (Mônica). O Cavaleiro das Trevas se vai depois de mandá-los para casa, mas claro que o Cebolinha não está satisfeito e sugere que os três atuem no caso a fim de descobrirem quem é o melhor Robin.

            Enquanto isso, Cascão e Mônica localizam o esconderijo da Arlequina e cuidam de seus capangas, em mais uma referência à Série Animada. Chegam Batman e Cebolinha, e quando confrontam Arlequina, descobrem que ela usou o lápis mágico de Marina para criar um monte de Pudinzinhos, melhor dizendo, Coringas!

            Com as habilidades do Batman, mais um plano infalível do Cebolinha (que funcionou) os vilões são derrotados. O Comissário Gordon aparece para levar Arlequina de volta ao Arkham e ao seu Pudim. Claro que o Cavaleiro das Trevas dá uma bronca nos três, mas diz que trabalharam bem em equipe e foram excelentes Robins. Os quatro desaparecem das vistas do Comissário, outro momento clássico, e termina assim a melhor história do crossover da DC com a Turminha!

            Calma, ainda tem a Turma da Mônica Jovem!

            Cá entre nós, a segunda fase da TMJ vinha me decepcionando um pouco até aqui. Desde o final do namoro entre a Mônica e o Do Contra, aliás, em que pesem as extraordinárias histórias com pano de fundo de terror e fantástico do Emerson Abreu. Mas estes crossovers foram extremamente bem produzidos!

            O primeiro, na TMJ 25, é assinado por ninguém menos que Flavio Teixeira de Jesus, o homem por trás da série Clássicos do Cinema da Turma da Mônica, com histórias antológicas no currículo como Coelhada para o Futuro, Star Tranko, Cascão Porker, e O Senhor dos Pincéis! Além da própria Insubstituível já mencionada. Odisseia Infinita começa com o aniversário do Cascão, ganhando dos amigos vários itens nerds, enquanto que em outro universo a Liga da Justiça tem um duro combate contra os vilões liderados por Lex Luthor, Darkside e Coringa. Luthor está inclusive de posse da Lança do Destino, mencionada na clássica história A Era de Ouro, lançada em 4 fascículos em 1998 e protagonizada pela Sociedade da Justiça, como um poderoso artefato místico que controla heróis com poderes.

            Foi pelo fato de ela estar com os nazistas, aliás, que os super-heróis não atuaram diretamente na Segunda Guerra Mundial do Multiverso DC.

            O jogo vira para os vilões quando o Coringa chega com uma caixa materna, e Mxyzptlk usa um cristal Kirbyrilium de sua quinta dimensão (evidente homenagem ao mestre Jack Kirby), para adulterar a caixa materna e com ela capturar os heróis em 52 realidades das quais não irão sair.

            Arlequina é escolhida para a tarefa, mas quando a completa vai parar no Bairro do Limoeiro, acompanhada de Átomo. Este é resgatado pelo Franjinha que o leva para a turma, para imensa alegria do Cascão, que desmaia quando sabe que a Liga da Justiça também está na área. Por sinal o maior nerd da turma se encarrega das referências quadrinísticas.

            O plano de Mxyzptlk envolve ainda os vilões do Limoeiro, mas a realidade da Turma também tem um herói, o Astronauta! No calor da batalha ele acaba colhido pela caixa materna, porém libertando a Liga da Justiça. Os heróis se reagrupam, mas os vilões também, e de novo graças ao Kirbyrilium os vilões liderados pelo Capitão Feio têm um upgrade em seus poderes.

            Mas a Turma também recebe poderes pelo mesmo fenômeno, e ai podem também contribuir na batalha. O mais legal é ver o Cascão com os poderes do Flash, e a Magali com os da Mulher-Maravilha, com direito a piadas com o Laço Mágico. Mas o plano de Mxyzptlk envolve liberar um robô gigante chamado Gorco, enterrado desde os tempos do Horácio, graças ao qual o duende pode permanecer indefinidamente na realidade do Limoeiro.

            A coisa engrossa de vez, mas graças aos esforços de Átomo e Franja o Astronauta é libertado, e com ele chegam outros personagens do Multiverso da Turma da Mônica formando a equipe Defensores do Limoeiro. A luta contra o robô é dura, mas Mônica finalmente o derruba, antes de Átomo transportá-lo a sua realidade com a caixa materna. Despedidas feitas e alguma pieguice depois, o que causa reclamação até do Cascão (afinal ainda é o aniversário dele) os heróis também voltam para casa, com direito até a menção ao clássico desenho Superamigos.

            Os Mais Jovens Heróis da Terra, história publicada na TMJ 26 e que encerra com chave de ouro o crossover, tem roteiro de Marcelo Cassaro, veterano tanto da MSP quando da Disney nos tempos da Abril. A trama é independente da edição anterior, e tudo começa com uma batalha, sobre o Oceano Pacífico, entre o Superman e o Capitão Feio. O vilão escolheu aquele lugar pela concentração de poluentes e lixo, amontoados pelas correntes marinhas. Os dois finalmente mergulham na água e desaparecem.

            No Limoeiro, Franjinha está exibindo para a Turma (mais o DC) sua nova invenção, uma máquina de teletransporte. O pessoal reclama das máquinas do tempo que nunca funcionam direito, e Mônica lembra que as máquinas de teletransporte são a segunda categoria de invenção mais problemática do jovem gênio. E novidade, todos recusam, menos é claro o Do Contra. Quando a máquina é acionada, entretanto...

            Rapidamente, Mônica vai parar em Themyscira, Cebola na Batcaverna, Magali nos Laboratórios Star e Cascão em Atlântida, remetendo a suas respectivas revistas da Turminha já mencionadas. E o DC?

            Em Oa, planeta dos Guardiões do Universo, lar dos Lanternas Verdes, com direito a aparições de Tomar-Re, John Stewart, Kilowog e outros membros da Tropa. E o diálogo entre o DC e o grandão que é sargento do exército verde é bem divertido.

            Franja reaparece na Torre de Vigilância da Liga da Justiça em órbita, e ao lado do Ciborgue se torna o elo de ligação, com todos os heróis e membros da Turma para lá convergindo. Antes Mônica recebe o laço da Mulher-Maravilha emprestado para vencer um desafio, e Cebola faz um tour lotado de referências na Batcaverna, referências estas inclusive a algumas de suas grandes histórias na primeira fase da TMJ.
 
            E são Aquaman e Cascão que primeiro se deparam com a grande amaça no Pacífico. Grande MESMO, e aqui se apresenta o momento que fez este escriba vibrar e se emocionar muito. Claro que envolve o Capitão Feio, como vimos no começo, na forma de um descomunal monstro de lixo de quilômetros de extensão.

            A referência visual, inclusive devido aos monstros menores que se desprendem da superfície do colosso, é a da já clássica, e por muitos considerada a melhor HQ do século XXI (inclusive por este escriba) DC: A Nova Fronteira. Obra máxima do saudoso quadrinista Darwyn Cooke (1962-2016), ela coloca uma quantidade espantosa de personagens da DC em uma trama que se estende por anos, abrangendo desde os anos 1940 durante a Segunda Guerra Mundial até o início dos anos 1960 e do governo de John Fitzgerald Kennedy. Publicada originalmente em 2004, essa HQ foi adaptada como um filme animado em 2008.

            O resultado ficou bom, mas lamentavelmente não chegou nem perto da grandiosidade e emoção do material original. DC: A Nova Fronteira, merece figurar tranquilamente ao lado de Batman: O Cavaleiro das Trevas e Watchmen como uma das melhores e mais influentes histórias em quadrinhos de todos os tempos! E sim, sou fã de carteirinha!

            A batalha é absolutamente grandiosa, e com um perfeito timing chegam os Lanternas Verdes Simon Baz e Jessica Cruz... acompanhados do DC! Os Guardiões gostaram da mente imprevisível do melhor personagem da TMJ (também sou fã). Eles trabalham em conjunto com a Mulher-Maravilha, a fim de permitir que o Aquaman resgate do interior do monstro o Superman e o Capitão Feio.

            O final do gigante é muito parecido com a também descomunal ameaça de A Nova Fronteira. Tudo termina bem, e a Mulher-Maravilha deixa claro o quanto todos foram heróis ali.

            O Grande Encontro Turma da Mônica e Liga da Justiça foi simplesmente sensacional, com histórias divertidas, muitos momentos de humor, heroísmo e emoção, além de referências que fazem a alegria do fã desses personagens incríveis. Um especial de encher os olhos que já é obrigatório em qualquer coleção.

            Nos vemos de novo por aí, em algum desses infinitos mundos paralelos.

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