terça-feira, 7 de abril de 2020

Resenha: A Padaria dos Finais Felizes

Bem no começo do ano publiquei no Instagram (pode conferir) que minha primeira leitura regular de 2020 seria O Silmarillion de J.R.R. Tolkien. Nem precisaria dizer que estou amando, e fiquei absolutamente maravilhado com o capítulo de Beren e Luthien.

Não é à toa que Aragorn canta uma música sobre eles para Frodo em A Sociedade do Anel, cena que está na versão estendida do filme de mesmo nome, aliás.

Enfim, tirei então um tempinho para respirar, e nisso a Má aproveitou e me mandou ler A Pequena Livraria dos Sonhos. Sim, “livro de menininha”, mas gostei bastante, o que pode ser conferido em nossa resenha, que os caros leitores, por sinal, já deveriam ter lido, né?


Não satisfeita, ela depois me passou A Padaria dos Finais Felizes, também de Jenny Colgan. Já conhecendo o estilo da autora, mergulhei sem medo nas aventuras (e agruras, que são muitas) de Polly Waterford. Ela tinha ao lado do marido Chris uma empresa de design gráfico que faliu, e os primeiros capítulos descrevem esse período penoso.

As páginas deixam claro, aliás, que o escritório era bem mais sonho de Chris do que de Polly, que fez tudo para apoiar o marido, sem sucesso. Nisso A Padaria é bem mais pesado do que A Livraria, apesar do drama de nossas heroínas ser bem parecido.

O banco tomou o apartamento deles, e sem poder ficar com a mãe como o marido fez com a dele, nem tendo o desejo de ficar com a melhor amiga, Kerensa, Polly procura um lugar barato para alugar por uns tempos, a fim de se isolar e tentar reconstruir a vida.

E nisso acha em um site de imóveis para aluguel um decadente apartamento sobre um pequeno comércio desativado em Mount Polbearne, na Cornualha (Cornwall, região do sudoeste britânico). Polly se lembra de haver visitado esse lugar quando criança, e se encanta com as pequenas casas e a visão do mar.


O vilarejo fica em uma pequena ilha, ligada ao continente por uma ponte acessível somente na maré baixa. Contra a vontade de Kerensa, que detesta à primeira vista o decadente lugar, Polly acerta um aluguel de curta duração. E o que acontece quando chega com sua mudança? Seus livros saem voando com a ventania, incluindo Alice no País das Maravilhas, presente do pai.

Detalhe, Polly é ruiva, assim como uma certa owner de um certo blog literário, imagino quem deve ter chorado litros na cena... Mas o precioso livro é salvo por um grupo de marinheiros, e nossa heroína conhece assim alguns dos amigos que fará ao longo da história.

Vim a gostar bastante do estilo de Jenny Colgan, que nos presenteia com descrições precisas sem nunca se alongar demais. E quase de imediato nos identificamos com suas protagonistas, que mesmo em momentos de fragilidade emocional não se tornam meras “donzelas indefesas”. Além disso, a autora é precisa na colocação de referências nerds e pitadas de humor que amenizam os momentos em que sofremos junto com os personagens.

Identificação, aliás, coisa que alguns autores de um país assim nem tão distante poderiam aprender... E que é algo muito mais complexo do que a mera questão de gênero, afinal estou cá a lhes contar que me identifiquei com uma moça de 32 anos, ruiva, que teve seu negócio falido e que tenta se reerguer fazendo pães.

E isso não é spoiler, claro, pois está na capa do livro (que tal como A Livraria evoca as paisagens onde vivem nossas heroínas) como na descrição de Jenny na contracapa. Depois de limpar o apartamento e conhecer Neil (outro amigo que faz na ilha) Polly se distrai fazendo pães, atividade que aperfeiçoou durante o período difícil antes da falência do escritório.


A habilidade de Polly com os pães (e a descrição do aroma deles chegando até a rua quase nos faz sentir aquele cheirinho delicioso de pão no forno...) reforça suas amizades com os locais e lhe garante novos contatos. O que inclui um norte-americano considerado meio maluco, Huckle, que mora no continente e tem um apiário, onde ela consegue mel.

O livro tem até alguns... “usos diferentes” para o mel! Arrisque-se quem quiser, claro! E sem surpresa, tem até receitas de alguns dos pães que Polly faz.


Por sinal, a Má ficou tão inspirada que acabou ela mesma fazendo alguns páes recentemente. Garanto que ficaram deliciosos!


A Padaria dos Finais Felizes é um livro sobre cair e recomeçar. Ter a coragem ou o desespero de dar um salto no escuro e, sem muito planejamento (nenhum, na verdade) se reinventar fazendo o que se gosta.


Também é de descobrir-se parte de um lugar, de uma comunidade (na melhor acepção desse termo), de uma autêntica família, dividindo com as pessoas alegrias, frustrações, tragédias e vitórias. Há aqueles momentos de quase chorar com os personagens, de vibrar com suas vitórias, dar muita risada com piadas até bestas, e até de pensar “pô, agora que tudo parecia que ia dar certo vocês ficam de manha!?”.

E relendo alguns trechos do começo do livro reparei em uma imagem que retorna nas últimas páginas. É, a vida às vezes é um ciclo, e a possibilidade de um novo começo após um tropeço pode estar mais próxima do que imaginamos. Pode estar a apenas um pequeno passo para se abrir para o desconhecido, o novo, o surpreendente e o maravilhoso.

Muito legal, recomendo!

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