terça-feira, 5 de maio de 2020

Resenha: Onde Kombi Alguma Jamais Esteve

Começando pelo que deveria ser o final: se você quer ler um dos melhores livros de Ficção Científica já escritos no Brasil, leia Onde Kombi Alguma Jamais Esteve!


Mas já!? Para o caro leitor ver como essa obra de nosso amigo Gilson Cunha realmente nos entusiasmou. Este escriba que agora fala com vocês está na estrada da escrita desde 1997, publiquei meu primeiro conto (Zé da Pinga, que por sinal faz parte de Filhas das Estrelas, pode ir conferir na Amazon) em dezembro de 2002 na saudosa revista Sci-Fi News, e meu primeiro livro em 2008 (De Roswell a Varginha, pela também saudosa Tarja Editorial).

Sinto orgulho em ter tomado parte da mais recente onda da FCB, a Ficção Científica Brasileira, que aconteceu entre o mencionado 2008 e meados de 2013 (coincidindo com o encerramento das atividades da Tarja). Foram muitas Bagunças Literárias, a também saudosa Fantasticon... depois tudo mudou, surgiu a auto publicação online, e a maioria dos autores de FC continuam nessa batalha por vezes inglória.

Esse contexto somente contribui para o brilho de Onde Kombi Alguma Jamais Esteve. O Gilson buscou a auto publicação, tanto que esse título e outros dele também estão na Amazon, e ele ainda encarou bancar a edição do livro físico. O resultado?

Um enorme sucesso e uma bela acolhida mais que merecidos! Pois as aventuras de Alfredão, Otávio e Cremilda são, para mim, a melhor coisa que já li em termos de Ficção Científica escrita no Brasil.


Gilson e Cremilda. Bem, ao menos uma das versões da Kombi estacionada no Centro Cultural São Paulo.

Mas afinal, por que me caiu os butiá do bolso ao ler Onde Kombi Alguma Jamais Esteve? Quem é esse viajante do espaço-tempo octogenário, casca-grossa e sem o ensino fundamental? Quem é Cremilda? E que expressão foi essa que usei na primeira frase?

Alfredo Dantas Fagundes, natural de Soledade no Rio Grande do Sul viveu uma vida dura mas feliz até morrer em 2010. Sim, morreu, bateu as botas. Mas foi trazido de volta à vida por uma antiquíssima raça alienígena que conhecemos como grays, e que ele chama de cabeçudos. Eles o escolheram para ser seu operativo em uma também antiquíssima batalha que travam contra outra raça alienígena, e a Terra é um dos palcos dessa luta.

Para isso Alfredão, como os amigos o conhecem, conta com sua fiel Cremilda, uma Kombi “corujinha” 1963 saia e blusa, azul com teto creme, que graças a um upgrade com a incrível tecnologia dos cabeçudos, se tornou uma nave espacial, temporal e transdimensional que só pode ser comparada à TARDIS!

Quanto à expressão, significa “me surpreendeu” em gauchês. Um dos aspectos mais legais do livro é a quantidade imensa de expressões próprias do Rio Grande do Sul, e toneladas de citações da melhor cultura nerd, todas devidamente explicadas (ou não) em notas de rodapé. Já comentei que adoro notas de rodapé? O Gilson explica que elas são o resultado de uma leitora crítica que pura e simplesmente não entendeu o livro. Pois é, Ficção Científica não é para todos.

Por sinal, foi uma tremenda coincidência ter conseguido produzir a foto que abre este artigo. Trata-se do meu exemplar, devidamente autografado pelo meu amigo, mais uma miniatura de Kombi que adquiri lá pelos idos de 2012, quando certa loja de miniaturas e modelismo na Rua Augusta fazia encontros mensais. O pequeno modelo é fabricado pela Greenlight e trazido e embalado pela California Toys, sua representante no Brasil. E por uma dessas coincidências quânticas do destino é igualzinho à Cremilda!


Gilson é trekker, claro que só poderia sair coisa boa!

Gostaria de destacar mais um aspecto. A Ficção Científica está dividida em duas vertentes, a saber: a FC Hard e a FC Soft. A divisão existe desde o início, e dois pioneiros são os melhores exemplos que podemos dar. Julio Verne, em sua obra, sempre se baseou nos fatos e descobertas da ciência, explorando seus preceitos com exatidão absoluta. Já H. G. Wells partia de postulados científicos mas “viajava” mais, extrapolando os limites dos fatos científicos conhecidos. Diz-se que o francês até exigiu que o colega lhe mostrasse o material especial usado pelos protagonistas de Os Primeiros Homens na Lua para viajar a nosso satélite natural.

Gilson, por outro lado, combina perfeitamente as duas vertentes. Cremilda viaja no espaço, no tempo e entre dimensões, supera a velocidade da luz e comete outras “infrações” contra as leis físicas conhecidas. Mas, ao mesmo tempo, a obra se apoia em sólidos postulados científicos, como recentes achados na Paleontologia e Genética, que comprovam a miscigenação entre Neandertais e Homo Sapiens, e claro, nos extraordinários sistemas de energia de Cremilda. Não, não vou contar, mas se o leitor quiser conhecer os princípios físicos usados, confira nos vídeos a seguir.




Cremilda é a Kombi mais rodada do Universo. Alguns até tentam...


Mas não existe nada igual!


Exclusividade: o sistema de propulsão de Credmilda! O de combustão interna, ao menos...

Na divertida capa de Onde Kombi Alguma Jamais Esteve aparecem a bordo de Cremilda o próprio Alfredão, seu amigo Otávio, o ditador Josef Stalin (que recebe o que merece na trama, leiam!), e o alienígena Q. A referência Gilson deixou pro leitor, e eu deixo para vocês.

Outro alienígena divertido é Nelson (leia o livro!). A obra é repleta dessas inserções, e algumas podem não ser do agrado de todos, principalmente da seara política. Absolutamente amo o fato de não existir um pingo de politicamente correto em Onde Kombi Alguma Jamais Esteve, mérito do Gilson que, assim como eu, e como deveria ser com qualquer escritor, preza a mais absoluta e essencial liberdade de expressão.



Como são Q e Nelson? Má acha que são como Roger, eu já os vejo como Paul...

E um personagem que me deixou fascinado (lembram que comentei sobre Neandertais aí acima?) é Mugh, amigo do peito de Alfredo e um verdadeiro gênio entre sua sociedade, 40.000 anos atrás. E não, não digo mais nada, vão ler o livro!

No site do Gilson, aliás, vocês podem ler várias outras histórias com Alfredo, Otávio e Cremilda, e ele tem outras histórias publicadas na Amazon, que valem muito conhecer. Nossos amigos e sua intrépida Kombi se envolvem com um famoso incidente de décadas atrás, e a interpretação dada em Onde Kombi Alguma Jamais Esteve vai deixar muito pesquisador e pseudo-pesquisador enraivecido. Eu achei incrivelmente bem elaborada, e essa descoberta dá margem a eventos dramáticos, afinal como em toda jornada bem escrita sempre aparecem aqueles momentos em que o personagem perde o chão, não é? Mas é de Alfredão que estamos falando, então ele logo embarca em Cremilda e vai fazer o que deve ser feito. O que contei acima mal cobre um terço do livro, e não canso de parabenizar Gilson por sua obra. Entrem em contato com ele para adquirir Onde Kombi Alguma Jamais Esteve, uma viagem espaço-temporal regada a doses enormes de cultura pop e um trago e outro de Marisqueira.


Garanto que o Universo não será mais o mesmo após você terminar a leitura!


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