sexta-feira, 30 de junho de 2023

RESENHA MARTIN MYSTÈRE 4 E DYLAN DOG 24

 


            Já fazia um bom tempo que eu pensava em escrever resenhas de alguns dos heróis da Sergio Bonelli Editore, que vim a conhecer ainda em 2022. Já havia lido algumas edições de Julia Kendall (As Aventuras de uma Criminóloga) e gostado bastante. Mas foi somente com um pedido do amigo Paulo B. Werner, editor da revista OVNI Pesquisa, que conheci outros personagens da casa italiana.

            Paulo é fã de longa data dos heróis bonellianos, e inclusive teve uma carta publicada na edição 9 de Martin Mystère ainda pela editora Record. Esse foi um dos números que achei em formato “genérico” online, e depois tive a sorte de encontrá-lo em um sebo. Mordam-se de inveja!




            Sim, amiguinhos, houve uma época antes da internet, quando escrevíamos cartas, em papel, e as remetíamos para as revistas e quadrinhos que líamos. Se os editores gostassem, nossa carta seria publicada em uma edição seguinte, não era o máximo?

            O fato é que passei a gostar muito desses personagens, e de Martin Mystère, O Detetive do Impossível, passei também a Dylan Dog, o Investigador do Pesadelo. O universo de Martin, como Paulo o descreve, é uma combinação de Indiana Jones e Arquivo-X, repleto de conspirações, alienígenas e segredos do passado.

            Entretanto, é muito importante frisar que as tramas não têm absolutamente nada a ver com certo programa de um canal de documentários, capitaneado por um sujeito que se diz pesquisador, tem cabelo estranho e é participante de inúmeros memes, sempre usando a palavra “aliens” para explicar tudo!




            Pelo contrário, Martin é bastante cético e busca sempre evidências concretas para embasar suas teorias nem um pouco convencionais.

            Tais evidências já comprovaram que, em seu universo, existiram há algumas dezenas de milhares de anos duas civilizações antagônicas com nível tecnológico similar ao nosso. Eram Atlântida e Mu, que por fim se destruíram em uma guerra nuclear, deixando aqui e ali locais secretos para resguardar partes de seu saber. Vem daí muitas das histórias de Martin Mystère e seus amigos, envolvendo inimigos como os Homens de Preto e o ex-colega Sergej Orlov.



            Enquanto Martin opera a partir de Nova York, Dylan Dog habita uma Londres recheada de monstros, assombrações, assassinos seriais e outros eventos bizarros. Ele já foi agente da Scotland Yard, e inclusive se encontrou com Martin em algumas aventuras crossovers. Enquanto Mystère é frequentemente acompanhado pelo amigo Java, um homem de Neanderthal que ele conheceu no Extremo Oriente, além da eterna namorada Diana, Dylan tem a ajuda de Groucho, que exibe a exata fisionomia de Groucho Marx, mas deve ser incomparavelmente mais maluco do que ele. O ajudante de Dylan deve ser o maior mestre em piadas sem graça, ironias e cantadas baratas dos quadrinhos, sendo um alívio cômico para as aventuras do Investigador, algumas das quais bastante pesadas.




            Então, depois de ler algumas das edições “genéricas” que encontrei, me senti confiante o suficiente para escrever um artigo dedicado a Martin Mystère que foi publicado na OVNI Pesquisa número 13.

            Façam o favor de visitar o site da publicação e ler, hein?

            Vale acrescentar que os dois heróis têm carros característicos deles. Martin dirige uma Ferrari Mondial, modelo dos anos 1980 que se destacava por ser 2+2, os dois lugares regulares mais dois bem apertados atrás.




            Já Dylan pilota... um Fusca! Um modelo conversível branco que sempre participa das aventuras, já foi até destruído algumas vezes mas sempre retorna na edição seguinte sem maiores explicações.




            Por sinal, a edição italiana número 384, com o título La Macchina Che Non Voleva Morrire, é dedicada ao carrinho que é uma grande paixão de Dylan. Aguardo ansiosamente seu lançamento pela editora Mythos, e por sinal confiram as referências nas imagens!




            Para esta primeira resenha de nossos heróis escolhi uma edição de cada, com histórias verdadeiramente únicas e plenas de elementos bizarros. É muito difícil encontrar uma história da Bonelli que não seja boa!

 

Martin Mystère 4 Necronomicon, segunda série, editora Mythos

 


            Somente pelo título já se percebe que esta edição é uma homenagem ao mestre do horror cósmico, H.P. Lovecraft! Antes de começar, vale um alerta: nunca, nunca, NUNCA leia os textos iniciais das edições, que estão na mesma página do expediente, antes de ler a história! Muitas vezes eles trazem spoilers brutais a respeito das edições, e eu somente bati os olhos ali para saber que deveria fugir e ler o texto somente depois!

            Essa edição, publicada originalmente em 1990 como o número 103 italiano, homenageia os 100 anos de nascimento de Lovecraft, e os dez anos do falecimento de outro grande contator de histórias. Não, não vou escrever quem é, nem qual dos personagens dele aparece na trama.




            Um sujeito de seus sessenta e pouco, um tanto maltrapilho, anda com uma caixa metálica sob o braço e é atacado por marginais. Porém ele luta ferozmente, mata alguns, mas termina morto. No necrotério, pouco depois, o vigia aparece também assassinado, e a geladeira onde estava o corpo do sujeito da caixa vazia.

            A caixa continha um rolo de filme, que com muita sorte eles conseguiram regravar em uma fita de vídeo, que o policial Travis, velho amigo de Martin, trouxe para sua análise. Colocada no videocassete (vão pesquisar, eu não vou explicar essa tecnologia antiga pra vocês) surgem imagens da Nova Inglaterra, palco de várias histórias de Lovecraft, um porto com navios, depois marinheiros embarcando e iniciando uma viagem. Um navegador solitário surge, que subitamente salta para o mar. O filme passa então para uma imagem no interior de algo, e coisas muito estranhas são vistas. Coisas como monstros com tentáculos e outras criaturas.

            Martin, cético, se mostra impressionado e lembra que, na época em que o filme original aparentemente foi feito, não existia a Industrial Light and Magic, e nem tampouco Ray Harryhausen já mostrava seu inigualável talento para efeitos especiais.




            Travis diz que as digitais do sujeito dado como morto pertenciam a um homem... também dado como morto, e conhecido de Martin. Esse personagem tem o nome Pickman, que vem a ser outra referência a Lovecraft, e que Martin encontrou nas edições 5 e 6 da editora Globo. E sim, eu as estou procurando. Nessa aventura anterior Martin e Java visitam uma casa bem maluca em Providence.

            Falando em Java, ele pode ser um Neanderthal que não consegue se expressar falando nossos idiomas, mas é extremamente inteligente e tem capacidades bem além de nós, Sapiens. E conforme descoberto pela genética, antropologia e paleontologia eu, você, todo mundo tem em seu DNA genes vindos dessa espécie de homens, que foi contemporânea de nossos antepassados há algumas dezenas de milhares de anos. A série de fato está coerente com as últimas descobertas a respeito dos Neanderthais, e só nos resta lamentar que eles tenham sido extintos.




            Os eventos bizarros se sucedem, e a história vai ficando ainda mais estranha. Personagens retornam, outros aparecem (aquele do outro contador de histórias homenageado), e chega-se à conclusão que a sinistra fita, que exibe cenas diferentes cada vez em que é assistida, inspirou grandes mestres de várias mídias.

            Confuso? Sim, é! Mas o resultado é sensacional, com certeza bem diferente da maioria das histórias conhecidas pelos leitores. Recomendo muito, corram lá no site da editora Mythos!

 

Dylan Dog 24 Maelstron, segunda série, editora Mythos

 


            Leram A Metamorfose de Kafka? Pois esta é uma das referências nesta incrível aventura do Investigador do Pesadelo. Um homem, morando em um apartamento simples, recebe a visita de dois agentes da Scotland Yard que lhe dão voz de prisão. Ele diz que leva uma vida pacata e não entende as acusações enquanto se arruma. Então, usando utensílios cortantes, mata os dois homens em cenas sanguinolentas, se arruma calmamente e sai, agradecendo a seu senhorio pelo tempo que morou ali. Em outra pacata vizinhança, uma esposa conta a seu marido que viu um vizinho, transformado em uma barata gigante, ser esmagado em plena rua. Sim, só ela assistiu a esse fato bizarro.




            No escritório de Dylan e Groucho (o som da campainha, aliás, é ótimo e bem no clima das histórias: AAAARRRGGGHHH) o visitante da vez é um gato preto que arranha Dylan e foge. Nosso gato anda pela rua, e sob seu ponto de vista vemos seres no mínimo bizarros.

            Lembram da mulher que viu a baratona? Pois é ela quem encontra os cadáveres dos policiais, e chama Dylan. Ele investiga por perto, e termina por ver que uma das vizinhas é a dona do gato. O bichano é Cagliostro, e a   moça é a bruxa Kim, que o Investigador do Pesadelo já encontrara antes (na edição 2 da primeira série da mesma Mythos), mas nesse ponto ainda não se recorda.




            Achou a trama do Martin acima bizarra? Pois espere para ver as bruxas e assassinatos malucos desta história de Dylan Dog!

            Dylan por fim começa a se recordar de Kim, e neste ponto vale lembrar que nosso Investigador do Pesadelo costuma se apaixonar por uma garota nova a cada edição, geralmente suas clientes. Então, cenas de sexo e nudez light são também comuns em suas histórias. Leia com moderação! Ou não.




            Finalmente é descoberto que alguém está assassinando os 666 guardiões da magia, e que pretendem abrir o Maelstrom, um portal para uma dimensão infernal. Falando em dimensões é mencionado ainda o Tesseract, mas não aquele dos filmes da Marvel, e sim o de Cosmos de Carl Sagan, um hipercubo quadridimensional que, na história, dá acesso a inúmeras dimensões.




            Já ficou bizarro o suficiente?

            Nem vou comentar a cena com Dylan e Cagliostro a bordo do Fusca. Sim, alguns gatos têm faculdades muito especiais...

            No final entendemos o que é o Maelstrom, qual é a do relacionamento entre Kim e Dylan (mais ou menos), a identidade do assassino dos agentes lá no começo e quem era o marido da senhora que testemunhou as aparições. Uma edição maluca com uma história incrível, que recomendo fortemente!


            Assim são as edições da Sergio Bonelli Editore publicadas aqui no Brasil pela Mythos. Como disse, é muito difícil encontrar uma história fraca nas HQs da casa italiana. Vale muito a pena conferir, e em breve apresentaremos mais resenhas, combinado?

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