quarta-feira, 17 de maio de 2023

O CURIOSO CASO DE CTHULHU E CREMILDA, RESENHA


  Quando se viaja no tempo e entre as infinitas realidades do Multiverso, certas coisas são inevitáveis. Dessa maneira, é apenas natural que, mais dia menos dia, as monstruosidades imaginadas pelo grande mestre do horror cósmico, H.P. Lovecraft, acabassem confrontando o motorista e arruaceiro espaço-temporal mais grosso já criado à leste de Soledade, Rio Grande do Sul!

Sim, chegou finalmente a hora de apresentar mais uma resenha do extraordinário e hilário Cremildaverso! Nosso amigo e colega Gilson Luis da Cunha expande consideravelmente as aventuras de Cremilda, a Kombi mais rodada deste e de qualquer universo, e sua intrépida tripulação! O motorista mencionado acima, claro, é Alfredo Dantas Fagundes, Alfredão para os amigos, e seu companheiro é o brilhante estudante de filosofia e paranormalidade Otávio Medeiros.

Cremilda é uma Kombi “corujinha” modelo Luxo, 1963, personalizada por uma raça alienígena que já conhecia a viagem no tempo bilhões de anos antes do surgimento de nosso Sol. Essa tecnologia incrivelmente avançada tornou a perua azul com teto branco capaz de viagens interestelares, temporais e transdimensionais, e com ela Alfredo e Otávio vivem as mais insólitas aventuras.

É claro que vocês leram nossa resenha de Onde Kombi Alguma Jamais Esteve, livro vencedor do Prêmio Argos 2020, não é?

O resultado do encontro dos personagens do Cremildaverso com os Mitos de Cthulhu deu origem a um novo gênero: o Humor Cósmico! São três noveletas originalmente escritas para um projeto de autores brasileiros homenagearem o mestre Lovecraft, mas que foi infelizmente encerrado após o primeiro livro, Guerras Cthulhu, organizado por Mauricio R.B. Campos.

Assim, Gilson reuniu as três histórias em O Curioso Caso de Cthulhu e Cremilda, e o resultado foi uma tremenda bagunça em várias realidades paralelas e outras tantas linhas temporais! Confira uma das consequências, o aparecimento de Kombis de outras dimensões...



Brincadeiras à parte, o resultado é primoroso, brilhante, e muito hilário!

Onde as Sombras Não Têm Vez é a primeira história, na qual Alfredo e Otávio chegam bem a tempo a um mundo primitivo prestes a ser definitivamente destroçado por Cthulhu e sua horda de pesadelos. O diálogo entre os viajantes e o Grande Sacerdote dos Grandes Antigos é surreal e divertidíssimo, e a sequência da noveleta plena de revelações, citações de cultura pop (tradição desde Onde Kombi Alguma Jamais Esteve), e mais momentos hilários. Sem contar, evidentemente, referências ao universo lovecraftiano, até um final completamente surreal, digno mesmo do gênero Humor Cósmico!

Em O Horror Inaudível os Cremildanautas enfrentam outra criação de Lovecraft, Nyarlatothep, o Deus Vivo, o Faraó Negro e outras alcunhas menos conhecidas. Após um primeiro encontro milhares de anos antes de nossa era, com direito a mais referências à cultura pop, a monstruosidade permanece desaparecida por séculos.



Corte para o futuro, alguns séculos além de quando estamos, e a humanidade se espalhou por incontáveis planetas Via Láctea afora. A questão é que permanece sendo uma grande família, e como qualquer grande família vários parentes simplesmente não se suportam. Para isso é mantido um planeta neutro, onde reina a paz, a igualdade e o debate civilizado, até uma calamidade intervir.

Acontece uma reunião de embaixadores, e Alfredão lembra o caso de antigas colônias fundadas por comunidades fundamentalistas, que depois de algum tempo terminaram por exterminar a si próprias. O problema de todo fundamentalismo é que ninguém nunca é bom, puro ou correto o bastante o tempo inteiro. Faz pensar, não é?

Alfredo não seria Alfredo se não tivesse um plano B, e logo conhecemos outros lugares e personagens, como Tião. Dele só falo que a princípio arranca o terror de Otávio, mas conforme o motorista de Cremilda, apesar de suas origens é gente boa.



Toda boa história, entretanto, tem uma virada, e aqui ela acontece com a terrível invasão de outra criação lovecraftiana. Os mi-go (que surgiram na história Um Sussurro nas Trevas) atacam e causam um estranhíssimo efeito em Alfredo. Quem leu o conto original do mestre certamente vai adivinhar o que aconteceu, e que proporcionou mais cenas gozadíssimas. Além de ser também uma clara referência ao episódio mais trash de Jornada nas Estrelas, A Série Clássica.

Otávio, apesar de meio perdido, consegue graças a seu brilhantismo chegar a um protocolo de emergência de Cremilda. Com isso surge uma esperança de resolver a alarmante situação, o que nos rende mais comédia, além de novos personagens. O principal é Brunhilda, guerreira que não leva desaforo pra casa e também atende por alcunhas adoráveis como Valquíria de Satanás, Danação Ruiva e outras.

Nem preciso falar que aparecem mais referências pop, né?



Otávio e Brunhilda por fim invadem a base dos mi-go, Alfredo fica como novo, e chega então a hora de enfrentar o grande mal. E, por fim, os tenebrosos planos de Nyarlatothep são frustrados por uma arma secreta engendrada por Alfredão. Quer saber qual? Clique aqui por sua conta e risco, depois não me venha importunar em seus últimos momentos de sanidade após ouvir abominação tão indescritível!

Cthulhu & Cleomir... Ou a Noite em que Abdul Endoidou. Esse é o título da terceira e última noveleta desse livro sensacional. E esta trama centrada no próprio autor do amaldiçoado tomo conhecido como Necronomicon, o árabe louco Abdul Alhazred, fará com que caiam os butiá de todos os bolsos!

É claro que nenhuma história do Cremildaverso pode prescindir de amostras do bom e velho gauchês!

Bem, digamos que o almoço em família na casa de Otávio não foi, para ele, bem o que estava esperando. Este é um trabalho para Alfredo, e como o próprio motorista diz, em suas andanças pelo Cosmos ele deixou muita, mas muita gente mesmo P. de ódio.

Sim, temos mais referências pop!



E referências lovecraftianas especialmente, como O Horror de Dunwich, uma das melhores obras do mestre. Nem escrevo nada, vão ler!

Bem, depois de resolverem a questão de Dunwich parecia tudo bem, quando Otávio reparou, no banco de dados da Fortaleza Fantasma (Como não leram Onde Kombi Alguma Jamais Esteve? Está tudo lá!) e notou a falta de certas referências pop à obra de H.P. Lovecraft. E rastreou isso até uma visitinha que Alfredo fez ao pobre Abdul, agora um homem honrado e de família.

E aí, o almoço de domingo em família vale mais que a sanidade de um homem?

Finalmente nossos heróis resolvem a situação com brilhantismo. E os detalhes da produção do texto e da capa do terrível Necronomicon, de novo, são de rolar de rir. E a noveleta e o conto terminam com outra referência impagável, lembrando da tirada humorística que é o fato de Cthulhu ser um nome muito difícil de pronunciar. Na Fandon Wiki dedicada a H.P. Lovecraft, no verbete associado à sua criação mais famosa, existem várias pronúncias de seu nome. E uma delas, muito usada aqui no Brasil, chegou a constar da lista, Cleiton!



O universo extraordinário criado por H.P. Lovecraft é fonte de histórias fantásticas, pesadelos terríveis, e também de muita inspiração. Eu mesmo já bebi dessa fonte algumas vezes, especialmente na história Vó Nena e os Caçadores: O Diário de George Angelo, que é o prelúdio do e-book Vó Nena e os Caçadores: O Livro Maldito.

Nas histórias desse universo em meu blog, o Escritor com R, até já apresentei o fato de a velha Caçadora possuir, em sua vasta biblioteca e depósito de objetos enfeitiçados e amaldiçoados, uma cópia em português do Necronomicon. Como Vó Nena conseguiu esse tomo abominável é uma história ainda a ser contada.

Mais recentemente publiquei na Amazon a noveleta Os Gatos de Vecruz, inspirada em Os Gatos de Ulthar, também de Lovecraft. Esta foi minha segunda publicação pela Casa do Carvalho Press, o selo literário fundado por Gilson para autores independentes se divulgarem mutuamente. A ideia é excelente, e estamos aguardando vocês, escritores e escritoras, que acreditam que o único limite na literatura fantástica é a imaginação!



O Curioso Caso de Cthulhu e Cremilda é um excelente livro, com histórias repletas de humor e referências pop, além de muitas aventuras e reviravoltas. Sem contar a bela e respeitosa homenagem ao mestre H.P. Lovecraft, claro! Procurem o Gilson em seu perfil do Instagram, @gilsondacunha42 , ou busquem pelo livro e suas demais obras na Amazon.

Continuem apoiando a nós, os autores nacionais! Em tempos de tantas adaptações de livros e contos, bem que poderia finalmente chegar nossa vez, não?


Blueprint da Cremilda!


Iremos nos encontrar de novo em alguma realidade paralela, em alguma linha temporal.

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