Antes de Superman, Batman, Mulher-Maravilha, antes de qualquer dos heróis da Marvel, havia o Fantasma!
E o primeiro de todos os heróis mascarados completa nesta sexta-feira, 17 de fevereiro, 87 anos! Mas claro que todos os leitores sabem que o Fantasma tem 400 anos.
Foi em 17 de fevereiro de 1936 a publicação da primeira tirinha do Fantasma, criado por Lee Falk (28/04/1911 – 13/03/1999), mesmo autor de outro clássico, o mágico Mandrake. Sucesso instantâneo, criando uma lenda que atravessou gerações e possui milhões de leitores fiéis até hoje.
O Fantasma tem a força de dez tigres; antigo ditado da selva.
A primeira história do Fantasma foi reunida pela Editora Mythos no número 4 das Crônicas do Fantasma. A publicação ainda traz um Especial no título, pois é mesmo um presente inestimável para os fãs do personagem. Para mim, pessoalmente, o que escrevi na primeira linha deste texto vale até mesmo no nível pessoal, pois logo após aprender a ler com os gibis da Disney e da Turma da Mônica, comecei a ganhar de meus pais também as aventuras do Fantasma. Antes de qualquer outro herói!
Não poderia ter outro resultado: virei fã de carteirinha, ainda com as publicações da venerável e saudosa Rio Gráfica Editora.
O Fantasma se move como um raio; antigo ditado da selva.
Já sabia que o personagem havia evoluído muito ao longo de todos os anos de publicação, e confesso que gosto mais das artes de Sy Barry, que eram a maioria das velhas edições que eu tive, que as de Ray Moore que ilustram este número de Crônicas. Mas a edição me surpreendeu demais!
E sim, é lógico que estou extremamente ansioso para comprar a dispendiosa, mas sensacional, edição O Fantasma Omnibus Sy Barry, Os Ratos do Porto e Outras Histórias, recentemente lançada também pela Mythos. Aceito como presente de aniversário adiantado, combinado?
É apavorante para um bandido acordar na escuridão da noite e ver o Fantasma; antigo ditado da selva.
Em suas 164 páginas encontrei, para meu enorme prazer, todos, absolutamente todos os elementos que já amava nas aventuras do Fantasma, e que o genial Lee Falk consolidou ao longo de todas as décadas em que trabalhou nessa riquíssima mitologia. Primeiro de tudo as mulheres fortes que sempre foram, ao lado do herói, protagonistas nas histórias, com destaque absoluto para a única, linda, sensual, maravilhosa e extraordinária Diana Palmer. No primeiríssimo quadrinho já a vemos treinando boxe com um tripulante do navio em que viaja, e como se diz na deliciosa expressão do inglês, kicking ass!
Por sinal minha primeira personagem feminina foi batizada Diana em sua homenagem. Um dia conto a história.
O navio é abordado por piratas modernos pouco antes de sua chegada a Nova York, e os bandidos querem não somente o carregamento de uma substância encontrada por Diana, mas a localização da fonte na qual ela a obteve. Essa substância é o âmbar-gris ou âmbar-cinza, produzido pelas baleias cachalote e muito raro, um elemento utilizado na perfumaria ainda hoje. E não, ele tem que amadurecer pelo contato com a água do mar, então não vale caçar as inocentes baleias para extraí-lo. Mais informações em ambergris.eu.
Bem nesse momento surge uma figura misteriosa: o Fantasma! Com astúcia e inteligência ele derruba os bandidos, salvando Diana e a preciosa carga. E, quando nossa heroína pergunta como pode agradecer, o justiceiro lhe mostra: com um ardente beijo!
Sim, o Fantasma é o último romântico!
O Fantasma tem mil olhos e tudo vê; antigo ditado da selva.
Há outros interessados em Diana, entretanto, e ela de novo é salva de um invasor noturno enquanto dorme tranquilamente em casa. O Fantasma se livra dos bandidos e dá um suave beijo na moça que dorme tranquilamente. De novo, bons tempos de heróis românticos.
Diana acaba sequestrada em uma festa da alta sociedade, e de novo nosso herói precisa intervir. Depois de várias idas e vindas eles estão a salvo, mas a moça é muito curiosa e o Fantasma então indica a ela uma pessoa, que vem a ser amigo do pai dela, que pode dar algumas explicações. Entre os termos que ela ouviu durante o confronto entre o herói e os bandidos um se destaca: espirito-que-anda.
James Dodd, o amigo de Diana, conta a ela a história de quando viajava pela costa de Sumatra setenta anos antes, em 1866. Seu navio foi tomado pelos infames piratas Singh, e o então garoto observou aterrorizado vários tripulantes andarem na prancha. Subitamente um dos bandidos aparece desacordado e com uma marca de caveira no rosto. E então uma figura sombria e ameaçadora surge, fazendo os malfeitores se ajoelharem implorando perdão.
O Fantasma, com uma voz de gelar o sangue, diz somente: “o Fantasma só avisa uma vez”.
Que vem a ser mais um dos ditados da selva que permeiam este artigo, e todas as edições de nosso herói! Lee Falk era apaixonado por mitos, lendas, pela mitologia nórdica, grega e arturiana. Nada mais natural do que incorporar esses elementos em sua maior criação.
Nunca aponte uma arma para o Fantasma; antigo ditado da selva.
Assim, o mistério para Diana só aumenta, pois o homem que a salvou e beijou era jovem, aparentando menos de trinta anos. Dodd confirma que o personagem que viu tinha a mesma aparência, e afirma que ele e seu pai buscaram informações em várias fontes. Eles descobriram que o Fantasma é um mito conhecido em toda a Ásia, e encontraram até mesmo uma menção a ele em um livro de mais de trezentos anos. Os marinheiros o conhecem, e os piratas se apavoram somente com a menção a seu nome.
A aventura leva nossos heróis até os mares do Oriente, para a base secreta dos Singh onde o próprio Kabai, líder da Irmandade, fica aterrorizado ao lembrar da lenda dos piratas de que teriam queimado o Fantasma trezentos anos antes. “O Fantasma sempre retorna” é o recado dele.
Quando o Fantasma, seriamente debilitado, surge na costa após mais uma fuga espetacular, aparecem também outros elementos essenciais de sua riquíssima mitologia: o lobo Capeto e os pigmeus Bandar! Outro elemento que frequentemente seria visto nas tramas posteriores é o médico sequestrado pelos pigmeus para cuidar do Fantasma. Seguem-se mais aventuras até Diana conseguir, com a ajuda do Fantasma, resgatar o âmbar-gris e ele, finalmente, contar sua história a ela.
E tudo começou com um juramento:
“Juro devotar minha vida à destruição de todas as formas de pirataria, crueldade, ganância e injustiça. Meus filhos e os filhos de meus filhos me seguirão”.
E nesse momento, também se inicia um dos relacionamentos mais duradouros dos quadrinhos. Pois Diana não resiste aos encantos do mascarado, que evidentemente já dava mostras de sentir algo muito especial pela intrépida aventureira. Eles selam seu amor com um apaixonado beijo, logo após Diana conhecer mais um antigo ditado da selva: ninguém recusa o Fantasma.
A aventura termina em um remoto esconderijo secundário, onde os Singh encontram seu destino. Mas fiquem calmos, os terríveis piratas retornariam muitas vezes a seguir.
O Fantasma é generoso com os bons, mas severo com os maus; antigo ditado da selva.
Crônicas do Fantasma Número 4 foi uma enorme surpresa, um reencontro com um velho amigo e uma viagem a épocas mais simples, onde o romantismo, a aventura, e valores como a amizade, lealdade, luta contra as injustiças e contra o mal eram indiscutíveis. Tive mesmo muita sorte ao começar a carreira de leitor de quadrinhos de heróis precisamente com o pioneiro entre eles.
Um personagem que me ensinou sobre mitologia das histórias antes mesmo de eu conhecer o termo, e que traz sempre as lembranças de fabulosas aventuras ambientadas nos lugares mais distantes e incríveis do mundo. Confesso que desconhecia que os mesmos elementos com que me identifiquei tanto no cânone do herói já estavam presentes em sua primeira história. Que, aliás, foi publicada entre 17 de fevereiro e 07 de novembro de 1936. Que sorte temos por podermos ler esse material todo de uma vez!
Recomendo ao leitor procurar essa edição, que merece fazer parte de qualquer coleção. E torço muito para a Mythos dar sequência a esse material belíssimo, honrando o primeiro de todos os heróis mascarados.
Esta foi nossa forma de comemorar este Dia do Fantasma, ou The Phantom Day, feliz aniversário, Espírito-que-Anda! Finalmente, dedico este artigo ao mestre Lee Falk. Jamais conseguiremos agradecê-lo o suficiente!
Você nunca encontra o Fantasma, é o Fantasma que encontra você; antigo ditado da selva.
Nenhum comentário:
Postar um comentário