Já reparou nas lâminas das bandejas do McDonalds?!? A arte delas é obra de Hiro Kawahara.
Bio:
Hiro nasceu em Mogi das Cruzes em 1965.
Quase se formou em Biologia na USP, trocando a
carreira de zoólogo pela de ilustrador em 1986.
Começou como ilustrador fixo na Editora Três,
onde aconteceu a já desgastada história do repolho pintado com água da privada (ouça
a história aqui).
Deixou de ser ilustrador por um período, quando
virou diretor de arte júnior na Lew Lara/Propeg, em 1993. Em 1995 foi
contratado como diretor de arte na Taterka Comunicações, onde teve contato com
os dois dos seus trabalhos mais conhecidos: as lâminas de bandeja do McDonald’s
(tiragem de 14 milhões por lâmina) e as caixinhas de McLanche Feliz e suas
campanhas promocionais, incluindo criação de filmes publicitários.
Em 2005 decidiu tornar-se ilustrador profissional
autônomo. Ainda cria, ilustra, escreve e diagrama as lâminas de bandeja do
McDonald’s, além de ilustrar também para diversas empresas e agências,
especializando-se em criação e desenvolvimento de personagens publicitários e
em ilustração infanto-juvenil.
Há alguns anos diversificou a carreira fazendo
trabalhos mais autorais, envolvendo principalmente sketches e aquarelas de
ilustrações divertidas, valorizando a idéia e o clima de bom humor. Também dá
palestras sobre a carreira de ilustrador e ministra oficinas de desbloqueio
criativo.
Contato: http://www.hiro.art.br/
1.
Como e quando você começou a se interessar pelas HQs?
Desde pequeno, acho que foi minha primeira leitura.
2.
Lembra qual foi o primeiro quadrinho que te cativou?
Lembro muito das histórias do Tio Patinhas e Pato Donald do Carl Barks, viajava na qualidade dos
desenhos, e as histórias eram menos ingênuas, tinha um humor que eu não entendia na época, mas fazia os quadrinhos serem
diferentes dos outros. Eu viajava pelos países que ele situava as historias, e as expressões eram muito ricas.
Acho que foi com a Mad e a antiga revista Cripta que comecei a diferenciar
os artistas pelo nome e estilo. Comprava a Mad por causa do Al Jaffee e do Mort
Drucker, adorava os desenhos detalhados, e isso influenciou o que eu faço até hoje.
Passei a ler as historias dos X-Men originais em ingles, depois quase tudo
da Marvel, e isso melhorou muito meu boletim na escola, mas não copiava nem pensava em ser desenhista de quadrinhos, nem de super heróis ou mangá. Sempre fui muito mais ligado nas
histórias, nas sacadas criativas e com o tempo
isso foi pontuando meu gosto por quadrinhos, cada historia bem escrita era uma
inspiração. Acompanhado de
bom desenho, era então um bônus.
4.
Na hora de ler, qual gênero de HQ
prefere?
Para LER, eu não tenho preferências, contanto que a história seja boa. Quando eu compro quadrinhos só por causa do desenho, geralmente não leio, fica como referencia. Historias boas estão em todos os gêneros, do terror ao de super herois.
Odeio histórias com pretensões de serem filosóficas, poéticas, com diálogos horrivelmente falsos, pomposos e
verborrágicos, que pretendem dar um ar de
nobreza para uma história viralata. Prefiro histórias onde o autor é autentico, mesmo
chutando o balde.
5.
Qual seu quadrinho favorito? Por quê?
Ih, tem vários. Gostei muito do conceito do “Estranho Talento de Luther Strode”, uma mistura de Kick Ass com tripas e vísceras, esse especialmente por causa da qualidade gráfica da violência, o roteiro é quase zero, o que é uma contradição sobre o que eu falei acima. Qualquer trabalho do Craig Thompson fica
sobre o criado mudo como referencia de histórias. Mas o PREFERIDO com medalha de honra ainda vai ser Calvin e Haroldo,
acho que até o resto da minha
vida.
6.
Como é ser ilustrador no
Brasil? Qual a abertura para seu trabalho, além das lâminas do McDonald’s?
Trabalhar com ilustração no Brasil, hoje, é uma batalha. Sem
choramingos, a crise pegou pesado. E no meu caso, estão batendo nos dois rins. De um lado, é a crise econômica que pegou geral, e do outro é a crise que acontece no mercado
infantil de publicidade, com ONGs ditando normas proibindo uso de qualquer tipo
de personagem ou ilustração infantil em produtos e propagandas. As empresas não querem arriscar e diminuiram o investimento nessa área, tanto que o espaço da TV aberta para o publico infantil vem diminuindo gradativamente.
Por outro lado, esperar que a situação se resolva é afundar na Fossa
das Marianas aos pouquinhos. Então hoje o ilustrador no Brasil tem que se virar, mais do que nunca virar pró-ativo e parar de olhar sempre para os mesmos lugares de trabalho -
editoras que estão fechando, agências que estão sem clientes. Restam animações, games, artes autorais, e sim, é preciso criatividade para se vender
como ilustrador. Acabou a fase onde se espera o telefone tocar para começar a trabalhar, é preciso fazer o
contrário mas em outros locais e outros
clientes. Hoje, mais do que nunca, é necessário uma estratégia e um plano de negócios para se aventurar no mundo da ilustração como autônomo.
As lâminas de bandeja trazem um retorno
mais popular do que profissional. Mas graças a ela e ao tempo que trabalhei como diretor de arte na Taterka, a agência que tinha a conta do McDonald’s, consegui fazer um bom network, o que é fundamental para se conseguir
trabalho. Um trabalho tão visível como as lâminas de bandeja facilitou e ainda
facilita na hora de me apresentar em qualquer lugar, seja em agências, para agentes ou diretamente para empresas, mas não é suficiente. Tenho
que me divulgar constantemente, fazer newsletters, renovar o site, mostrar que
não faço apenas as lâminas de bandeja. Dá certo, hoje faço trabalhos para o Pão de Açucar, Bunge e a Sodexo fazendo outros
estilos de trabalho além do focinho e engraçadinho, já que eu me
considero o tarefeiro publicitário, o cara que faz qualquer desenho em qualquer estilo, ao mesmo tempo que
tenho consciência que tenho um traço muito característico, que também é sempre
requisitado. Óbvio, é muito mais agradável receber para desenhar pin up ou monstros do que um prédio de vidro ou uma mesa de executivos se cumprimentando.
Hoje eu dou aulas com uma intensidade que não havia imaginado. Além de conseguir encher as classes, com poucos alunos, percebi como meu
desenho e disciplina mudou e continua mudando. Como não dou aula para uma escola, sou totalmente livre para explorar o que
acredito fielmente, e graças a isso talvez meus cursos tenham um apelo muito grande de inspiração. E nisso descobri uma nova forma de ganhar meu sustento com a ilustração, e pelo visto, vai ser de maneira permanente, porque adoro dar aulas.
7.
Onde busca inspiração para criar?
Já sou velho, acho
que aprendi que buscar inspiração é uma balela, uma
bazófia de autoajuda. A inspiração não se busca, não adianta ir atrás dela se sua cabeça é agitada como a 25
de março no Natal. Nenhuma boa idéia entra, nem mesmo você tem condições de perceber se é uma boa idéia. Por isso hoje acho que para criar tem que se acalmar, tirar a ansiedade
(sim garotos, isso parece impossível, mas é necessário) e focar. A inspiração então vem de qualquer coisa, de um nenê vomitando no prato até um congestionamento no pedágio. O processo de inspiração, ao contrário do que se imagina, não é de fora para
dentro, mas o inverso, de dentro para fora. Um sapo e uma musa pelada tem o
mesmo apelo criativo se sua cabeça está apressada e
pensando nas dívidas pra acertar amanhã, eles não viram uma história ou uma inspiração só porque você quer ou precisa. A escolha é sua, meditação ou Sertralina. Ou ambos.
8.
Na hora de trabalhar/criar, tem alguma mania?
Caras, eu sou muito chato. Gosto de silêncio absoluto, adoro o ruido branco da madrugada. mas trabalho melhor em
ambientes com cheirinho bom.
9.
Existe algum tema que se recusaria a usar nos seus trabalhos? Por quê?
Já recusei trabalhos
comerciais envolvendo sexo explícito, para uma empresa de cigarros e também para partidos políticos. Coisa de bom senso. Em
trabalhos autorais, acredito que a coisa muda um pouco. Quase nenhum assunto
deve ser proibido, para não caracterizar censura. Mas também, é necessário entender que também existem consequências, e elas são muito mais contundentes em assuntos polêmicos.
Uma coisa que jamais faria em trabalhos comerciais, por exemplo, é o uso de violência exagerada e sexo, mas em trabalhos autorais gosto da idéia de trabalhar com a nossa sombra, não vejo problemas se um dia eu fizer um quadrinho muito violento ou com
muito sexo. Se eles estiverem dentro de um contexto, fizerem sentido pra mim ou
pra história, serão válidos. Se eu fizer uma história sobre a Inquisição, a violência é um personagem que
precisa ser mostrado, por exemplo. Irei receber criticas, talvez, mas se eu
fizer um trabalho que me satisfaça pessoalmente, valerá a pena, contanto que eu saiba suportar as consequências.
10.
O que vem por aí?
Quadrinhos violentos e com algum sexo!! Antes do final do ano.
11.
Algum recado para os leitores?
Aguentem firme.
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