Laura Athayde é advogada por profissão e desenhista por
teimosia. Após terminar a pós graduação em Direito Tributário, em 2014, passou
a dedicar-se à iustração e ao quadrinho. Participou de diversas publicações
coletivas como o Zine XXX, Zine MÊS (outubro/14), o livro Desnamorados, Zine
Amendoim e Acerca Zine, dentre outros. Lançou também dois zines
individuais, Delirium e O Mundo é Um Jogo e Eu Só
Tenho Mais Uma Vida, que podem ser lidos online em http://issuu.com/lauraathayde. Atualmente, desenvolve uma HQ
longa de sua própria autoria em parceria com a Editora Tribo.
Contato:
ltdathayde@gmail.com
1.
Como e quando você começou a se interessar pelas HQs?
Sempre li histórias em quadrinhos, especialmente Turma da Mônica, Mickey, essas
coisas. Na adolescência, conheci o mangá e passei a desenhar os meus próprios
quadrinhos, em geral pequenas comédias feitas pros meus amigos. Finalmente, em
setembro de 2013, tive meu primeiro contato com o quadrinho independente
nacional e as temáticas autorais, cotidianas.
Na
vida? Foram os quadrinhos do Maurício de Souza, sem dúvida! Eu tinha pilhas e
pilhas de quadrinhos da Turma da Mônica. Acho que essa é a porta de entrada pra
grande parte dos brasileiros aficionados por quadrinhos. Outro quadrinho que me
marcou foi Peach Girl, que eu colecionava no ensino médio e marcou o início dos
meus questionamentos sobre o papel e os padrões impostos à mulher pela
sociedade, que é uma temática que eu trabalho até hoje.
3.
Como os quadrinhos influenciaram sua vida?
Como eu
comentei na resposta anterior, os quadrinhos me trouxeram os primeiros
questionamentos sobre a mulher, as aparências, as amizades e o amor. O contato
com o quadrinho autoral nacional só intensificou esses questionamentos, pois em
geral abordam temas cotidianos e íntimos de pessoas que vivem no mesmo contexto
social que eu.
4.
Na hora de ler, qual gênero de HQ prefere?
Eu sou louca
por ficção policial! Até hoje coleciono Monster, um mangá sobre um psicopata e
o homem que tenta capturá-lo pra salvar a própria reputação. Mas tenho lido
bastante drama, como Maus (que é baseado em fatos), Asteryos Polip e Habibi.
Pergunta
difícil... todos os quadrinhos que citei nas respostas anteriores significam
muito pra mim, e tenho muito carinho por todos. Mas atualmente, acho que meu
favorito é Asteryos Polip, em que vejo a união perfeita entre linguagem gráfica
e escrita, formando uma coisa totalmente nova.
6.
Onde busca inspiração para criar?
Faço tiras, então a minha inspiração vem do dia a dia, de situações
cotidianas com uma pitada de exagero. Quase tudo o que desenho aconteceu de
verdade, mesmo que metade tenha acontecido só na minha cabeça! A HQ longa em
que tô trabalhando tem essa mesma pegada: trata de pedacinhos do cotidiano de
várias pessoas que se relacionam de uma forma ou outra, de modo que acabamos
vivendo um pouquinho da vida de pessoas com quem talvez não nos identifiquemos
de primeira, mas que no fundo passam pelas mesmas atribulações existenciais que
a gente.
7.
Na hora de trabalhar/criar, tem alguma mania?
Tenho várias manias. Não gosto de interrupções quando
estou desenhando, então procuro fazer todos os meus outros afazeres antes, e
tenho o hábito de trabalhar de madrugada. Às vezes ouço música, mas se a música
é agitada demais, acaba influenciando o meu ânimo e fico desenhando afobada. É
uma coisa engraçada!
8.
Existe algum tema que se recusaria a usar nos seus
trabalhos? Por quê?
Não sei. Trabalho de forma independente, então faço oque
quero. Acabo abordando temas meio parecidos e que me tocam de alguma forma,
como feminismo, relacionamentos... gostaria de tentar temas mais políticos no
futuro, quando me sentir completamente segura das minhas opiniões.
9.
O que vem por aí?
A HQ longa em que estou trabalhando
com a Editora Tribo! Além disso, estou trabalhando em alguns projetos conjuntos
muito legais, sobre os quais falarei mais em breve.
10.
Existe preconceito por parte dos
criadores/roteiristas/desenhistas de HQs?
Tenho sentido cada vez menos. Ainda é
comum, infelizmente, os projetos encabeçados por homens recaírem em lugares
comuns do tipo colocar umas mulheres gostosas seminuas na capa da revista,
sendo que nenhuma das histórias tem protagonista mulher ou mesmo personagem
feminina relevante. Ainda existe um pouco dessa mentalidade tacanha de que as
mulheres servem pra enfeitar, mas não pra protagonizar, e que não existe
interesse em temáticas consideradas femininas. Mas os projetos exclusivos de
quadrinistas mulheres, que são cada vez mais frequentes, tem sido fundamentais
pra desbancar esses preconceitos e mostrar que existe sim interesse em
histórias protagonizadas e escritas por mulheres, porque as pessoas se
identificam num nível muito mais profundo que o gênero.
11.
As mulheres ainda sofrem preconceito por gostarem de
quadrinho?
Não acho que existe preconceito por gostar de quadrinho, e sim, como
disse anteriormente, pelas temáticas consideradas femininas. Isso ainda existe,
por incrível que pareça, mas tenho visto cada vez menos, em especial no cenário
independente, que é marcado pela interação total entre autor e público e entre
os próprios artistas.
12.
Como isso pode mudar?
A existência de projetos
encabeçados por quadrinistas mulheres e que abrem espaço pra discussão de temas
antes silenciados, e que são relevantes não só para mulheres, mas para toda a
sociedade, tem feito um puta papel na quebra desses estigmas.
Leiam quadrinhos! Então, quando isso não for mais o bastante, façam quadrinhos! É um mundo muito grande, e em algum lugar tem alguém que pensa como você e precisa ler o que você tem a dizer.
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