Luciano Marzocca, 38 anos, publicitário, comunicador,
relações públicas e teólogo por formação. Redator, jornalista, fotógrafo,
diagramador e produtor gráfico por força do ofício. Meti-me a dar aulas e não
parei mais. Para ser de verdade um bom professor, estou cursando Letras na
FFLCH-USP, o que, em contrapartida está espandindo meu cérebro a ponto de doer
(literalmente: estou tendo enxaquecas de tanta coisa que tenho que ler). Luto
por mais verdade, justiça e um pedaço maior de pizza. Agora edito também o
Calendário Geek sobre tudo que acontece no mundo nerd/geek (se tem data para
acontecer, se é geek/nerd, está lá). Lancei no final de fevereiro deste ano e,
graças a Deus, está indo bem.
E-mail: calendariogeek@outlook.com
Facebook: https://www.facebook.com/lucmarzocca
1.
Como e quando você começou a se interessar pelas HQs?
Meu primo, bem mais velho do que
eu, lia muitos gibis e me influenciou. Ele era fã de Homem-Aranha, por isso
essa era minha leitura. Quando eu li uma história em que o Aranha se encontrava
com um baixinho irritadiço, atravessando o Muro de Berlim para a Alemanha
Oriental, eu pirei. “Quem é esse nanico? Como ele sabe tanto? Ele quer matar a
própria amiga? Como?!” Aí descobri os X-Men. Depois disso, vício puro.
2.
Lembra qual foi o primeiro quadrinho que te cativou?
Como a maioria dos brasileiros,
comecei com Turma da Mônica. Meus pais não tinham com quem me deixar quando
minha mãe ia ao cabelereiro, então ele mesmo – o cabeleireiro! – comprava uma
sacola de Turma da Mônica e largava para eu me divertir na recepção.
3.
Como os quadrinhos influenciaram sua vida?
Difícil imaginar minha vida sem
os quadrinhos para poder dizer o que não vem de lá. Eu sou da geração que os
pais descobriram a TV como babá, o gibi como literatura e os heróis como fonte
de modelo moral. Meu pai me soltava na banca de jornal e dizia: Pegue o que
quiser. Voltava com Turma da Mônica, Marvel, Garfield, coleções de livros e um
monte de figurinhas. Por isso, muito do meu caráter, talvez, seja do Peter Parker
(bem, poderia ao menos ser menos pobre do que ele, né?); meu humor é Logan puro
(usei o nick “Logan” por quase 20 anos, e só deixei por causa da modinha). E,
no final, busco fazer algo (e me vejo patinando também) tal qual o Professor X,
que, mesmo vendo o fracasso cotidiano de evitar conflitos, continuou tentando. Quer
dizer, se não fizer o certo, vai se fazer o quê? Eu gostaria de continuar
tentando fazer um mundo melhor, mesmo que isso não surta o efeito total que eu
gostaria. Penso que se é apenas uma gota d’água para apagar um incêndio, pois
que seja a melhor gota d’água do Universo.
4.
Qual gênero de HQ?
Mainstrem: Heróis Marvel, uma ou outra coisa top de linha da
DC. Claaro: Sandman, Cavaleiro das Trevas, Watchmen... Mas sou marvete, não tem
como não ser. Surfista Prateado, Wolverine, A Morte do Capitão Marvel,
Marvels... tanta coisa mudou como pensava antes.
5.
Qual seu quadrinho favorito? Por quê?
Minha revista favorita, guardada a vácuo, em um cofre
protegido por partículas Pym, é a Escolhas Malditas, uma graphic novel do
Wolverine como Nick Fury (ainda branco com mechas de cabelo grisalhas). Cada
passo que o Logan dava, uma decisão tinha que ser tomada, e nenhuma hipótese
era agradável. Logan repetia o refrão “outra escolha maldita”. Eu me vejo em
situações onde é “perder e perder” e não tenho medo de tentar o melhor, mesmo
sabendo que nunca vou agradar a todos.
6.
Quando você começou o Calendário Geek? Com qual
objetivo? O que você coloca por lá?
O Calendário Geek se propõe a ser uma referência de
acontecimentos para nerds e geek. “Tudo o que tem data para acontecer...”.
Acabei me dando conta que HQs têm data de lançamento, assim como livros,
revistas e até memorabília, diecast etc. Não é, portanto, somente sobre eventos,
cinema e a cobertura deles. Mas, claro, a maior parte do sucesso do Calendário
Geek fica nessa área – divulgação e cobertura de eventos geek/nerds.
7.
Como tem sido trabalhar neste ambiente cultural
“nerd/geek”?
É o meu mundo. Muito cara de final de “patinho feio”, eu
sei. Piegas até os ossos. Mas é um povo sempre agradável, com referências em
comum. “Não é trabalho, é diversão”, às vezes eu penso. Claro, tem seus
percauços, mas onde não tem?
8.
Algum recado para os leitores?
Leiam, se divirtam, ousem. Não caiam em estereótipos,
rótulos, embalagens preparadas para incautos. Se hoje você quer ler a morte da
Gwen Stacy, releia. Se quiser ler Baudelaire, leia. Eu nunca sofri bulling,
nunca fui destratado quando ainda não tinha a timidez sob controle, nunca senti
na pele o que aparecia nos filmes de adolescentes da Sessão da Tarde. Mesmo
assim, sempre amei heróis, jogava 12h de videogame por dia, sempre fui zoado
porque eu gosto de desenhos animados e HQs. Eu levava na esportiva e ia a shows
de rock com quem achava tudo isso perda de tempo. Não se rotule. Como diria o
Rigby de “Regular Show”, deixe isso para os fracassados. Aproveite tudo o que
puder.
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