quinta-feira, 16 de julho de 2020

QUADRINISTA: MARIO CAU








 @mariocau

OBRAS Pieces (série), Pieces – Partes do Todo, Dom Casmuro, Terapia, Monstruário, Morphine, Quando a noite fecha os olhos, Paschoa.

1. Como e quando você começou a se interessar pelas HQs?
Foi muito cedo. Desde criança, antes de saber ler, eu já me sentia atraído pelo desenho, animação e gibis. Qualquer coisa com imagem, narrativa, me cativava. Aprendi a ler com Quadrinhos, e por toda minha vida eles estiveram presentes.

2. Lembra qual foi o primeiro quadrinho que te cativou?
Não posso dizer com certeza, mas ainda criança sempre preferi as HQs da Turma da Mônica, mas também tinha uma coleção de contos da Disney (que vinham com uma fita cassete com a historinha) que eu devorei. Li muita HQ infantil no final dos anos 80 e nos anos 90. Tinha uma produção grande no Brasil na época. Com o passar do tempo, o gosto e interesse vão mudando, e em cada época da vida eu mergulhava num tipo de quadrinho.

3.  Como os quadrinhos influenciaram sua vida?
Muito da minha personalidade veio do consumo de quadrinhos e animação, também, então não se limita ao desenho...
Mas acho que, principalmente, Quadrinhos influenciaram toda uma experiência de mundo.
Eu sempre desenhei, como toda criança, mas nunca parei. Desenhar sempre foi uma atividade de brincadeira, diversão, escapismo... Eu, no meu mundinho, desenhava e brincava por horas. Era o começo de uma vida apaixonado pela narrativa, por contar histórias e imaginar possibilidades das mais comuns às mais incríveis e impossíveis. Os quadrinhos me ensinaram a criar histórias, personagens, e me ensinaram a não ter limites para o que posso imaginar e produzir.

4.  Na hora de ler, qual gênero de HQ prefere?
Eu leio de tudo, pra falar a verdade. O que importa é uma boa história, personagens cativantes, diálogos bem construídos. Alguns gêneros não me atraem tanto, assim como acontece nos filmes, séries, música... Não precisa gostar de tudo.
Gosto muito de histórias sobre pessoas, o que sentem, o que pensam e como lidam com relacionamentos e questões mais introspectiva. Mesmo se for uma HQ de super-heróis ou terror, fica sempre muito melhor quando tem um elemento humano e relacionamentos como fio condutor da trama.

5.  Qual seu quadrinho favorito? Por quê?
Nossa, só um? Não tem como escolher apenas um, porque sempre acaba mudando a longo do tempo de acordo com nossa própria evolução pessoal e as novidades que aparecem pra ler. Se quando jovem eu era fascinado por X-Men e Homem-Aranha, hoje fica doido lendo obras do David Mack, do Eisner, Bone, Sandman... Mas também tem tanta coisa incrível nos quadrinhos brasileiros! Minha cabeça bugou!





6.  Quando e como começou a desenhar? Acompanhou algum curso/livro?
Desenho desde sempre, essa é a verdade... A maioria das pessoas desenha quando criança até uma certa idade, e eventualmente para. Eu continuei. Desenhar pra mim é algo indissociável. Eu consumi muito material gráfico, lia muito, brincava muito. Assistia desenhos, filmes, o tempo todo. Jogava videogame. Essas coisas alimentavam meu imaginário e me empolgavam para recriar o que eu consumia e criar coisas novas, inspirado por tudo.
Fiz curso de desenho dos 12 aos 15 anos e aos 18 entrei na Unicamp, onde me formei em Artes Visuais. Fiz cursos diversos por aí, cursos livres, e também dou aulas: sou professor desde 2007, e isso foi importantíssimo para minha evolução como artista, tanto tecnicamente quanto poeticamente e didaticamente.

7.  Como surgiu seu personagem?
Bom, eu tenho poucos personagens. Pelo menos no q eu considero meu trabalho autoral, maduro. Quando criança e adolescente, criei centenas de personagens, cartoons, heróis, etc. Mas já adulto, quando comecei a produzir os quadrinhos de verdade, minha proposta geralmente era de não ter personagens fixos.  A proposta original da série Pieces era justamente essa. As pessoas que estavam nas histórias eram pessoas comuns, anônimas, que a gente vê por aí na vida real.
Quando comecei a produzir Terapia, decidimos que teríamos personagens fixo, recorrentes, mas todos, sem exceção, não têm nome. Em Morphine, eles têm nome como forma de ajudar o leitor a identificar quem é quem. Monstruário já tem uma proposta menos “anônima”, todos têm nomes e por aí vai.
Os personagens são, de alguma forma, extensões do autor. Eu costumo, primeiro, pensar na história que quero contar para então pensar no personagem que vai conduzir essas história. Mas pode ser o contrário... uma ideia de personagem que desenrola toda uma história a ser contada.
O mais importante não é ter um personagem, é ter uma história pra contar. E, mais ainda, contar essa história. Vejo muitos artistas, especialmente a galera mais jovem, criando personagens que têm backstories imensas, mas que nunca tiveram sequer uma página de narrativa...

8.  Onde busca inspiração para criar?
A vida, memórias, experiências... Tanto minhas quanto dos outros. Boas ideias vêm pra mim quando reflito sobre as questões que mesão caras. Quando penso nas possibilidades diversas que as ações ou não-ações podem gerar como consequência. Em como os sentimentos funcionam e nos movem.

9. Na hora de trabalhar/criar, tem alguma mania?
Não diria “mania”... Tenho métodos, formas de me organizar. Eu gosto muito de ter as coisas bem organizadas tanto no espaço real, quanto virtual e interno, em mim mesmo. Quando você quer ser um profissional, mesmo que seja, freela, autônomo, home office... Você precisa não ser um refém da casualidade e do seu meio. Tudo que puder ser organizado para otimizar seu trabalho tem que ser feito.
Por exemplo, eu gosto muito de ouvir música enquanto trabalho. Mas o tipo de música pode influenciar no meu ritmo e foco. Gosto de ouvir podcasts, mas só quando estou fazendo algo mais mecânico. Durante as partes que exigem mais criatividade, prefiro música, de preferência instrumental... Não gosto de ser interrompido constantemente, preciso de um fluxo contínuo de foco no trabalho. Arrumo meu material, minhas referências, meu espaço da melhor forma para que meu processo não tenha interferências...
A ideia do artista caótico, que espera inspiração, que produz ao sabor das inconstâncias e incertezas, não funciona para mim.

10. Qual a maior dificuldade encontrada na hora de criar?
Acho que é ter uma combinação de fatores importantes: uma boa história, tempo, espaço e foco para desenvolver todo o processo e até ter um mercado aquecido e convidativo. Isso, junto de um equilíbrio interno que te possibilite focar. Essas coisas levam tempo, e cada um tem o seu tempo e seu método. Atualmente, minha dificuldade tem sido organizar tudo que ando fazendo, pois o que menos ando fazendo é criar coisas novas. Tem sido complicado em alguns momentos até sentar e me permitir pensar e refletir, escrever com calma, sem ter uma cobrança ou outros trabalhos e compromissos tirando a atenção.
Mas sabe, tudo bem... Tem muita coisa acontecendo por aqui, então eu estou até conformado em não produzir nada novo atualmente, porque tenho muitas coisas pra terminar antes de querer começar uma nova.

11. Existe algum tema que se recusaria a usar nos seus trabalhos? Por quê?
Eu acho que nossas histórias refletem muito de nós mesmos. É praticamente impossível escrever uma história sobre coisas que você não tem nenhuma identificação, ou pior, rejeita e odeia. Acho isso um exercício desnecessário.
Dessa forma, eu jamais produziria ou participaria de projetos que validassem qualquer tipo de preconceito, que fossem contra inclusão, representatividade, respeito e paz, alinhados a pensamentos extremistas, retrógados, negacionistas...
Assuntos como estes seriam, claro, abordados se o contexto for correto, como coisas a se evitar e combater em prol de um mundo melhor e mais justo. Eu acredito que o mundo pode ser melhor, as pessoas podem ser felizes e viver em paz e com respeito, e é isso que vou buscar nas minhas histórias.

12. O que vem por aí?
Bom, devo dizer que o futuro é cheio de projetos, vontades e incertezas. 2020 tem sido um plot twist atrás de outro. Originalmente, tinha 3 títulos para lançar esse ano, mas já estamos em julho e não tenho certeza sobre nada. Com a situação atual causada pela incompetência do governo em lidar com a pandemia e crise econômica, não temos eventos e todo mundo está tentando entender como proceder com os projetos e trabalhos.
Terapia Volume 2, Monstruário – Arquivos Secretos 2 e Pieces – Parte de Mim são os três títulos que desejo publicar ainda em 2020, mas cada um tem sua própria série de questões a serem resolvidas para que isso possa de fato se concretizar.
Enquanto isso, continuo dando aulas e mentorias e produzindo vídeos para meu canal no YouTube.

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