Renato Cambraia
@rcambraia
1. Como
e quando você começou a se interessar pelas HQs?
Como eu curtia desenhar desde muito novo, tinha uma atração natural por
tudo o que era desenhado. Minha mãe aproveitou isso e me ensinou a ler basicamente
com gibis da Turma da Mônica e da Disney, antes mesmo de eu entrar pra escola.
Eu viciei naquilo, e todo domingo meu pai me levava na banca. Isso foi lá pelo
final da década de 70, em Paraguaçu Paulista, interior de SP.
2. Lembra
qual foi o primeiro quadrinho que te cativou?
Eu adorava as histórias longas do Pato Donald escritas pelo Carl Barks,
tipo a Perdidos nos Andes, O Segredo do Castelo, etc. Eram histórias muito
ricas, tanto no roteiro quanto nos detalhes. Há uns dois anos atrás inclusive
ganhei de aniversário uma coleção capa dura de 4 volumes só com essas histórias!
3. Como
os quadrinhos influenciaram sua vida?
Gostar de gibis na infância me levou a curtir ouvir e contar histórias.
Isso naturalmente me levou a gostar muito de ler livros. Sempre fui um aficionado
por literatura – fazia na época o que a gente faz com séries hoje – maratonava mesmo!
E gostar de ler sempre facilitou também meu aprendizado de forma geral. Então, em
síntese, ler gibis me levou a gostar de aprender.
Aliás, estou fazendo exatamente a mesma coisa com
meus filhos. Tenho dois, o Rafael (9 anos) e a Manuela (6 anos). Ambos
aprenderam a ler em casa, sempre com muito gibi no meio. O Rafa é completamente
viciado na Turma da Mônica, aliás!
4. Na
hora de ler, qual gênero de HQ prefere?
Gosto mais de quadrinhos autorias, com experiências reais ou histórias reflexivas
e originais. Mas vario bastante, e de vez em quando leio alguma de super-herói,
zumbi ou outras coisas do tipo.
5. Qual
seu quadrinho favorito? Por quê?
Não tenho bem um favorito, mas se fosse pra eu indicar uma HQ pra quem
nunca leu nenhuma, seria a seguinte lista:
As Três Sombras, do Cyril Pedrosa;
Persépolis, da Marjane Strapi;
Duas Vidas, do Fabien Toulmé;
Tungstênio,
do Marcello Quintanilha.
Tem muitos outros, claro, mas esses estão sempre na
minha cabeça.
6. Quando e como começou a desenhar?
Acompanhou algum curso/livro?
Comecei acho que como quase todo desenhista começa,
quando criança mesmo. Aquela coisa de rabiscar tudo, paredes, armários, carro
(esse foi com uma pedra, coitado do meu pai). Apesar dessas coisas, meus pais
me estimularam muito na infância. Meu pai, engenheiro civil (assim como eu),
fazia seus projetos no nanquim e papel vegetal. Era um paraíso pra mim, todas
aquelas canetas e penas! Mas nunca fiz um curso formal de desenho na juventude,
basicamente desenhava observando os cartunistas que eu curtia, como Angeli,
Laerte, Glauco e Adão. Mas depois que entrei na faculdade, aqui em São Paulo, fiquei
alguns anos sem desenhar praticamente nada.
7. Como surgiu seu personagem?
Depois que me formei, voltei pra Paraguaçu em 98 e
comecei a escrever crônicas para um jornal local, o A Semana. O pessoal do
jornal começou a curtir minhas bobagens e acabou me dando uma página inteira pra
editar. Convidei alguns amigos pra ajudar (o Marinho, o Foca e o Zé Ricardo) e
inauguramos o Beco, uma página semanal que durou pouco mais de 100 edições. Fiz
alguns quadrinhos lá, mas basicamente eu escrevia crônicas mesmo. Nessa época
surgiu meu único personagem, o Pato. Era basicamente um alter ego claramente influenciado
pelo mundo Disney e viveu um tempo através de algumas tirinhas. Mas ele não
existe mais (ainda bem!).
Em 2006 muita coisa mudou, eu conheci o amor da
minha vida (a Juliana), nos casamos e logo depois tive que assumir meu atual
trabalho e em 2010 o Rafa nasceu. Entre 2006 e 2013, abandonei completamente o
desenho.
Todo esse tempo sem criar foi muito prejudicial pra
mim, e essa história não caberia aqui. Mas o que importa é que no começo de
2013 resolvi voltar a criar, depois de comprar um iPad e descrobir um
aplicativo que mudou minha vida (Paper, https://www.fiftythree.com). E mais, decidi
que iria publicar no Facebook, mesmo que achasse tudo uma porcaria. Criei uma página
chamada Beco* em homenagem aos good old times e postava lá meus rabiscos. Aliás,
continuo postando, tanto lá como no Instagram**.
8. Onde
busca inspiração para criar?
Gosto muito de falar de costumes, das coisas da vida. De relacionamentos,
de educação infantil, das coisas boas e ruins que nós, humanos, acabamos
fazendo. Então, basicamente a inspiração vem das coisas que me aparecem durante
o dia, em qualquer lugar ou situação. As ideias de um cartum ou quadrinho nunca
vêm enquanto eu desenho (em geral), então tenho um bloco de notas no celular
pra anotá-las. Quando eu sento pra desenhar, é porque a ideia já está mais ou
menos formada na cabeça.
9. Na
hora de trabalhar/criar, tem alguma mania?
Como eu não vivo de quadrinhos, eu desenho quando dá, então não tenho horário
fixo pra isso. Esse é um dos motivos que só desenho no iPad. Dá pra levar em qualquer
lugar e único recurso que preciso é a caneta e energia. Infelizmente não posso
me dar o luxo de ter alguma mania tipo “só desenho na minha cadeira favorita,
com a cortina em 35% e ouvindo Brahms”, então vai desde a mesa da sala, o balcão
da cozinha e, algumas vezes – só algumas vezes - o banheiro.
10. Qual
a maior dificuldade encontrada na hora de criar?
Eu não tenho dificuldade na hora de desenhar propriamente dita, minha maior
dificuldade é acreditar que vou ter uma próxima ideia. Cada vez que publico algum
cartum, tirinha ou quadrinho, meu eu interior me diz “já deu, essa aí foi a última,
você nunca mais vai ter nenhuma ideia”. Mas estou aprendendo a cada dia ignorar
mais esse cara.
11. Existe
algum tema que se recusaria a usar nos seus trabalhos? Por quê?
Eu não curto muito fazer cartum de política. Claro que o comportamento do
ser humano é intrinsicamente ligado ao mundo político em geral, então de vez em
quando sai alguma coisa com uma dose de política meio que de fundo, mas em
geral é pra provocar alguma reflexão sobre nosso próprio comportamento. Mas
aquele cartum político direto, de crítica a um lado ou a outro, não curto fazer
mesmo. Já tem muita gente fazendo isso, não tenho vontade nenhuma. É uma coisa
importante e tem que ser feita, claro, mas... não por mim.
Tenho muita vontade de escrever um livro
infantil. Sou obrigado aqui em casa a contar histórias para meus filhos (eles
gostam das “da sua cabeça, papai”), e possivelmente algumas poderiam funcionar
num livrinho. Queria tentar fazer isso ainda esse ano, vamos ver.
Também tenho tido vontade de fazer uns quadrinhos
mais longos do que um cartum, tipo de uma página. Talvez iniciar aí um caminho
pra uma HQ de verdade, quem sabe?
*Beco: facebook.com/beco.br
** Instagram: instagram.com/rcambraia
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